Diários do Paquistão: Um domingo de Deus e Alá
Tanto na casa de Deus quanto no santuário de Alá, as pessoas foram extremamente simpáticas e acolhedoras. Pode ser que isso seja pelo fato de verem em nós duas pessoas que dividiam com elas o seu credo, independentemente de cor e raça
Por Leonardo Sakamoto Islamabad
- Apesar de predominantemente muçulmano, há outras religiões no Paquistão, funcionando legalmente. Hoje, pela manhã, fomos à igreja de Saint Thomas, para assistir à missa em urdu, língua oficial do país, ao lado do inglês. O cristianismo, religião dos colonizadores ingleses, mas que já havia chegado no primeiro século da era cristã, está presente com católicos e protestantes. O nome da igreja é carregado de história. A cerca de 30 quilômetros e uma hora de carro de Islamabad ficam os sítios arqueológicos de Taxila, subdistrito de Rawalpindi, a oeste da capital, considerados pela Unesco como um Patrimônio Cultural da Humanidade. Nessa região, fixaram-se persas, gregos, hindus entre os séculos V a.C e II da era cristã, que a transformaram em capital de várias dinastias e centro de estudo budista e védico. Umas razões é proximidade com fluxos de comércio, como a Rota da Seda. Dario, o Grande, e Alexandre, o Grande, conquistaram a região de Taxila durante seus reinados. A história é longa, mas vai desembocar no arqueólogo inglês John Marshall que comandou um processo de escavações, no século passado, trazendo à tona as construções soterradas pelo tempo. Estivemos lá anteontem. Segue uma foto para dar uma idéia de um dos sítios.
Voltando à igreja. Saint Thomas, ou São Tomé, em suas perigrinações para levar a fé cristã à Ásia, se fixou na região de Taxila por volta do ano 40. Até hoje, há um festival anual em sua homenagem no mês de julho. A igreja de Saint Thomas, em Islamabad, não possui separação para homens e mulheres. A maioria deles senta à esquerda e delas à direta, mas há homens e mulheres em ambos os lados. A missa é longa (quase duas horas), mas bem animada, com músicas religiosas tocadas por instrumentos ao vivo, lembrando um pouco as missas e cultos mais modernos no Brasil. O frei Xavie Plassat, meu companheiro de viagem, fez um vídeo do momento da comunhão:
Como ontem eu havia reclamado da frieza de Islamabad, hoje eu venho dizer da simpatia demonstrada pela população mais humilde. Fomos bem recebidos na igreja, apesar de não falarmos uma palavra de urdu. É importante informar um outro dado: os cristãos estão entre os grupos mais pobres do país hoje, muitos deles vítimas de trabalho forçado. Uma boa acolhida após uma entrada um pouco tensa, uma vez que vigias com detectores de metal fazem uma revista completa. Uma das razões é o medo de atentados - houve casos de granadas que foram lançadas contra igrejas no Paquistão.
Depois, fomos até o santuário de Bari Imam na periferia da cidade. Localizado em uma região mais pobre, escondida dos olhos dos visitantes e dos altos funcionários públicos de Islamabad, o seu entorno é bem movimentado, com barracas que vendem bugingangas de plástico, comida (os doces apesar de serem extremamente gordurosos, são bons) e pétalas de rosas perfumadas para serem ofertadas. O santuário cheira a incenso, que é queimado em um forno a lenha do lado de fora. As mulheres não podem entrar na parte principal - a elas é reservado um espaço lateral, separado por um muro. Parte dos homens rezam, outra parte descansam nos tapetes, fugindo de um sol escaldante, do lado de fora. Olhares curiosos e desconfiados voltavam-se para nós o tempo inteiro - não deve ser muito comum estrangeiros em um santuário na periferia da cidade... Dois homens vieram nos perguntar de onde viemos e se éramos muçulmanos. O Xavier disse que não era, mas eu não me agüentei e disse que era muçulmano. Em um instante, um foi falando para outro, e estávamos rodeados de pessoas que vieram nos cumprimentar, oferecer água, enfim.
A verdade é que, independentemente disso, tanto na casa de Deus quanto no santuário de Alá, as pessoas foram extremamente simpáticas e acolhedoras. Pode ser que isso seja pelo fato de verem em nós duas pessoas que dividiam com elas o seu credo, independentemente de cor e raça. Ou que essas pessoas, mais humildes do que as que estão no centro de Islamabad, sejam mais alegres e hospitaleiras. Acho que os restante da viagem pode apontar uma resposta. A certeza é que, neste último dia na cidade antes da ida para o interior, fechamos o corpo com uma benção dupla. Só para garantir.
Voltando à igreja. Saint Thomas, ou São Tomé, em suas perigrinações para levar a fé cristã à Ásia, se fixou na região de Taxila por volta do ano 40. Até hoje, há um festival anual em sua homenagem no mês de julho. A igreja de Saint Thomas, em Islamabad, não possui separação para homens e mulheres. A maioria deles senta à esquerda e delas à direta, mas há homens e mulheres em ambos os lados. A missa é longa (quase duas horas), mas bem animada, com músicas religiosas tocadas por instrumentos ao vivo, lembrando um pouco as missas e cultos mais modernos no Brasil. O frei Xavie Plassat, meu companheiro de viagem, fez um vídeo do momento da comunhão:
Como ontem eu havia reclamado da frieza de Islamabad, hoje eu venho dizer da simpatia demonstrada pela população mais humilde. Fomos bem recebidos na igreja, apesar de não falarmos uma palavra de urdu. É importante informar um outro dado: os cristãos estão entre os grupos mais pobres do país hoje, muitos deles vítimas de trabalho forçado. Uma boa acolhida após uma entrada um pouco tensa, uma vez que vigias com detectores de metal fazem uma revista completa. Uma das razões é o medo de atentados - houve casos de granadas que foram lançadas contra igrejas no Paquistão.
Depois, fomos até o santuário de Bari Imam na periferia da cidade. Localizado em uma região mais pobre, escondida dos olhos dos visitantes e dos altos funcionários públicos de Islamabad, o seu entorno é bem movimentado, com barracas que vendem bugingangas de plástico, comida (os doces apesar de serem extremamente gordurosos, são bons) e pétalas de rosas perfumadas para serem ofertadas. O santuário cheira a incenso, que é queimado em um forno a lenha do lado de fora. As mulheres não podem entrar na parte principal - a elas é reservado um espaço lateral, separado por um muro. Parte dos homens rezam, outra parte descansam nos tapetes, fugindo de um sol escaldante, do lado de fora. Olhares curiosos e desconfiados voltavam-se para nós o tempo inteiro - não deve ser muito comum estrangeiros em um santuário na periferia da cidade... Dois homens vieram nos perguntar de onde viemos e se éramos muçulmanos. O Xavier disse que não era, mas eu não me agüentei e disse que era muçulmano. Em um instante, um foi falando para outro, e estávamos rodeados de pessoas que vieram nos cumprimentar, oferecer água, enfim.
A verdade é que, independentemente disso, tanto na casa de Deus quanto no santuário de Alá, as pessoas foram extremamente simpáticas e acolhedoras. Pode ser que isso seja pelo fato de verem em nós duas pessoas que dividiam com elas o seu credo, independentemente de cor e raça. Ou que essas pessoas, mais humildes do que as que estão no centro de Islamabad, sejam mais alegres e hospitaleiras. Acho que os restante da viagem pode apontar uma resposta. A certeza é que, neste último dia na cidade antes da ida para o interior, fechamos o corpo com uma benção dupla. Só para garantir.
Amei esse depoimento, eu ja fui a Taxila, eh a cidade do meu amore, eh linda, pobreza ao redor,porem riquissima culturamente e historicamente!
3 comments:
É bom saber que lá no Paquistão, não somente os estrangeiros, mas os paquistaneses podem professar outras religiões além do islam.
Saber respeitar as diferenças faz a diferença.
Sou super fan do Sakamoto...excepcional jornalista...=)
Com certeza, por isso fiz o topico da bandeira
eh sim, ele eh excelente!
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