(Fonte Globo.com) Click here to read in English: Saudis Race All Night, Fueled by Boredom
Alimentados pelo tédio, jovens da Arábia Saudita apelam para 'rachas' de carros
Corridas de rua talvez sejam o esporte favorito da juventude saudita.Disputas são grito coletivo de frustração no ultraconservador país
Corridas de rua talvez sejam o esporte favorito da juventude saudita.Disputas são grito coletivo de frustração no ultraconservador país
Esses jovens começam a se juntar por volta da meia-noite, numa ampla faixa de uma rodovia entre o deserto e o mar. À uma da manhã, há centenas deles, de pé, em grupos, ao lado de seus carros. Eles olham ao redor, inquietos e preocupados com a polícia.Então, com um ronco de motores, ela começa: um Corvette amarelo e um Mitsubishi vão lado a lado, correndo pela estrada numa velocidade assustadora, a alguns centímetros de distância um do outro. Pessoas gritam ao redor, e outro par de corredores vai em frente, depois mais outro.
Talvez esse seja o esporte mais popular da juventude saudita, uma competição obsessiva, semilegal, dominante das noites de fim de semana por aqui. Ela vai de corridas comuns a "rachas", uma prática extremamente perigosa na qual os motoristas viram de um lado para o outro em alta velocidade, às vezes matando a si próprios e aos espectadores.
Para a enorme e desempregada geração de jovens sauditas, essas batalhas noturnas inconsequentes são um tipo de grito coletivo de frustração, uma rara liberação da exuberância num país ultraconservador onde os gêneros são rigorosamente segregados e a maior parte do entretenimento em público é ilegal. É uma forma de, literalmente, espantar o tédio. "Por que eles fazem isso?", disse perguntou Suhail Janoudi, vendedor de 27 anos que, por volta da 1h30 da manhã, assistia às corridas ao lado da pista com um leve sorriso no rosto. "Porque eles não têm mais nada para fazer. Eles estão vazios." Alguns jovens, ao serem questionados sobre o motivo pelo qual arriscavam suas vidas daquela maneira, disseram que era por causa do "tufush", uma palavra coloquial árabe cujo significado, diz-se, se origina dos gestos feitos por um homem sendo afogado, e que é traduzido como "vazio, ociosidade" ou "desespero". Os rachas, que tendem a atrair os homens mais pobres e marginais, também tem sido um ponto de conexão entre a homossexualidade, o crime e o jihadismo desde seu início, há 30 anos. O desejo homoerótico é um tema constante em músicas e poemas sauditas sobre rachas, os motoristas de maior sucesso, dizem, escolhem os rapazes mais bonitos da plateia. Algumas vezes, as drogas também têm sua participação. Mas inúmeros motoristas de rachas também se tornam militantes islâmicos, incluindo Youssef al-Ayyeri, o fundador da al-Qaeda na Península Árabe, combatente no Afeganistão e morto por forças de segurança na Arábia Saudita em 2003. "A ideia por trás desses rachas é que a economia e a sociedade não precisam deles", disse Pascal Menoret, antropólogo realizador de uma pesquisa de campo que durou quatro anos em Riyadh, a capital. Ele ensina agora em Princeton e escreve um livro sobre a cultura jovem saudita. "Eles são, em sua maioria, são jovens beduínos que recentemente se mudaram para a cidade, cujas vidas são marcadas pelo sofrimento e comportamento de autodestruição." No entanto, a maioria dos motoristas são como jovens rapazes de qualquer outro lugar: são inquietos, adoram uma aventura e são loucos por carros. "Isso é inculcado em você quando criança, e fica com você", disse Sulayman al-Shulukhi, 29 anos, corredor assíduo dos fins de semana à noite por aqui. Ele adotou um visual anos 1950, à "Grease": cabelos penteados para trás com brilhantina, camisa polo com a gola para cima, jeans e sapatos brancos. O rapaz mostrou orgulhosamente as modificações feitas em seu Subaru Impreza: um sabotador de fibra de carbono, uma válvula de entrada, um sistema especial de ventilação, um turbopropulsor. Ele então entrou em seu carro para um passeio ao longo de uma das faixas de corrida próximas à King Road, não muito longe da costa do Mar Vermelho.
Chegamos a 120 quilômetros por hora nessa parte", ele disse, enquanto acelerava perigosamente rodovia abaixo, "e a 200 por hora nessa outra parte". Enquanto dirigia, Shulukhi contou a história de um acidente recente, ocorrido nessa estrada, no qual o carro de um amigo pegou fogo durante uma corrida. Ele também comentou outro no qual um motorista perdeu o controle nos giros e morreu depois que seu carro entrou em chamas. O mundo dele é cheio de desastres e heróis do asfalto, alguns deles homens locais. Ele frequentemente menciona os filmes de corrida "Velozes e Furiosos", e sua sequência, "Corrida Mortal". Depois, quando as estradas se esvaziam um pouco, é hora do cavalo-de-pau. Raif Mansour al-Dammas, um rapaz magrelo de 21 anos que aparenta ser bem mais jovem, entra em seu Nissan branco 1980 e instiga o motor até sair fumaça. Gritos de admiração vêm de um grupo de jovens. Então o carro acelera para frente, furiosamente, e breca numa derrapagem descontrolada, girando, quase colidindo com uma barreira de concreto e deixando grossas marcas no asfalto. Um cheiro sufocante de borracha queimada paira no ar. Ali perto, Shulukhi explicou que ele e seus amigos, todos com Subarus, não eram motoristas de rachas de verdade. A distinção tem mais a ver com status social do que com a atividade; ele e seus amigos são de classe média e não se enxergam como marginais. "É uma caminho diferente do que fazemos", ele disse. "É uma coisa doida, proibida." Shulukhi menciona o famoso caso de Faisal al-Otaibi, 27, motorista de rachas e cavalos-de-pau, condenado à morte depois que seu carro bateu em 2005. No acidente faleceram três adolescentes que passeavam com ele. A sentença foi reduzida este ano para 3 mil chicotadas, vinte anos de prisão e uma proibição total para dirigir, por toda a vida. Desde a prisão de Otaibi, conhecido pela imprensa saudita como Abu Kab (significando algo como "o rapaz de boné"), a polícia saudita tem tomado sérias medidas em relação aos rachas e aos cavalos-de-pau, tratando todas as mortes resultantes dessa prática como homicídios criminalmente negligenciados.
No entanto, até mesmo as corridas são perigosas. E, apesar de prevalecerem em todas as grandes cidades sauditas, a polícia tenta desencorajá-las. Logo após a 1h30, um grupo de carros policiais aparece, luzes piscando, fazendo com que os jovens se dispersem. Os policiais não prendem ninguém. Eles apenas descem de suas viaturas e começam a falar com os jovens de maneira paternal, mandando-os para casa. "Temos outro lugar para ir quando isso acontece", disse Shulukhi, confiante, entrando em seu Impreza e dirigindo por alguns blocos em direção a um estacionamento de shopping center. Ali, vários outros rapazes esperam ao lado de seus carros, alguns examinando os motores. Às 2h30, a polícia aparece novamente, o próximo passo numa brincadeira de gato e rato que dura quase a noite toda. Desta vez, Shulukhi e seus amigos vão para o norte, param para um café no drive-thru chamado French Roast. Após o lanche, eles seguem até alcançarem um trecho escuro de rodovia, fora da cidade, com uma obra de um lado e um deserto do outro. Os jovens aceleram seus Subarus por um trecho de meio quilômetro durante uma hora. Por volta das 5h, a estrada começa a se encher de caminhões de entrega conduzidos por imigrantes paquistaneses, dispostos a fazer o trabalho mal-remunerado que a maioria dos homens sauditas rejeita. Os motoristas dos rachas decidem terminar por aí e dirigem, relutantemente, para casa.
No entanto, até mesmo as corridas são perigosas. E, apesar de prevalecerem em todas as grandes cidades sauditas, a polícia tenta desencorajá-las. Logo após a 1h30, um grupo de carros policiais aparece, luzes piscando, fazendo com que os jovens se dispersem. Os policiais não prendem ninguém. Eles apenas descem de suas viaturas e começam a falar com os jovens de maneira paternal, mandando-os para casa. "Temos outro lugar para ir quando isso acontece", disse Shulukhi, confiante, entrando em seu Impreza e dirigindo por alguns blocos em direção a um estacionamento de shopping center. Ali, vários outros rapazes esperam ao lado de seus carros, alguns examinando os motores. Às 2h30, a polícia aparece novamente, o próximo passo numa brincadeira de gato e rato que dura quase a noite toda. Desta vez, Shulukhi e seus amigos vão para o norte, param para um café no drive-thru chamado French Roast. Após o lanche, eles seguem até alcançarem um trecho escuro de rodovia, fora da cidade, com uma obra de um lado e um deserto do outro. Os jovens aceleram seus Subarus por um trecho de meio quilômetro durante uma hora. Por volta das 5h, a estrada começa a se encher de caminhões de entrega conduzidos por imigrantes paquistaneses, dispostos a fazer o trabalho mal-remunerado que a maioria dos homens sauditas rejeita. Os motoristas dos rachas decidem terminar por aí e dirigem, relutantemente, para casa.
Lembrando que na Arábia Saudita mulher não pode dirigir.
O que você acha disto?
3 comments:
cada carrinho básico que eles tem ne... tadinhos
Penso, o mundo não é nem um pouco diferente, no final das contas só temos diferenças na nossa mente.
Aqui mesmo na minha rua, final de semana passado o carinha num racha entrou com tudo no muro de uma casa de esquina.
O pq disso? Se afinal o Brasil tem mil e uma coisas para serem feitas ao invés de tamanha estupidez.
Acredito que desde que o mundo é mundo lá no tempo de Adão todo ser humano sempre cobiça mais do que tem.O que comanda esses rapazes nem é tanto a adrenalina da corrida, mas o égo que lhes sobe ao delírio quando os "colegas" exaltam tamanha babaquisse.
Fico indignada e muito triste.Pois em Maringá uma mocinha de 16 anos tbm morreu quando atravessava a avenida que estava com o sinal fechado e surge do nada um carro na maior velocidade sem o menor respeito pela lei e termina todo um objetivo de vida de uma menina.
Isso é triste.
Realmente muito triste isso.
Mas eu concordo com a Annah, realmente não é apenas uma questão social, ou seja, os problemas sociais é que levam os jovens a atitude bestas. Quando se é muito jovem, acredita-se muito em seu potencial. A adrenalina fala mais alto aos incosequentes.
Ou faz-se já uma política educativa ( escola, familia, igreja, meios de comunicação...) de forma severa , ou muitas vidas serão ceifadas por estupidez e negligência.
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