Saturday, 13 June 2009

Educação de crianças no Paquistão

Vou escrever um pouco de Educacão mais tarde, mas leiam esse texto e por favor comentem.

Reportagem da UOL

Madrassas preenchem lacuna na educação de crianças no Paquistão
Escolas religiosas islâmicas fazem o que o estado deixa de fazer. Mas seu papel é questionado por conta das relações com a insurgência.

A escola primária nesta pobre vila pode ser facilmente confundida com um celeiro. Ela tem o chão sujo e nenhuma luz, e corvos entram pelas janelas sem vidro. A classe tem 140 alunos, o que os levou a ter aulas no pátio. Porém, se o estado esqueceu as crianças daqui, os mulás, não. Com o ensino público em condições desastrosas, as famílias mais pobres do Paquistão recorreram às madrassas, ou escolas islâmicas, que alimentam e abrigam as crianças, enquanto oferecem uma versão mais militante do Islã.
A concentração de madrassas aqui no sul do Punjab se tornou uma preocupação urgente diante da insurgência paquistanesa em expansão. As escolas quase não oferecem instrução além da memorização do Alcorão, criando um grupo cada vez maior de jovens mentes simpáticas à militância. Analisando os perfis de homens-bomba que atacaram Punjab, a polícia local disse que dois terços deles frequentaram madrassas. "Estamos no início de uma grande onda que está prestes a varrer o país", disse Ibn Abduh Rehman, diretor da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, uma organização independente.
"É um alerta vermelho para a nação." A educação nunca foi prioridade aqui. Até o plano atual do Paquistão de dobrar o orçamento com o ensino público no próximo ano pode fracassar. Foi assim com esforços anteriores, impedidos por burocracias morosas, governos instáveis e falta de compromisso da elite governante com os pobres. "Este estado nunca levou a educação a sério", disse Stephen P. Cohen, especialista em Paquistão da Brookings Institution.
"Estou muito pessimista sobre se o sistema educacional pode ser ou será reformado." Famílias paquistanesas há muito tempo recorrem às madrassas. As escolas que seguem uma linha religiosa são uma minoria. Mas, mesmo para a maioria que frequenta escolas públicas, o aprendizado tem uma tendência islâmica. O currículo nacional foi islamizado durante a década de 1980, sob o governo do general Mohammad Zia ul-Haq, governante militar que promoveu a identidade islâmica do Paquistão como forma de unir o mosaico de tribos, etnias e línguas.
O grau de instrução no Paquistão cresceu, de quase 20%, na época de sua independência, há 61 anos, e o governo recentemente melhorou o currículo e reduziu sua ênfase no Islã. Entretanto, mesmo nos dias de hoje, somente cerca de metade dos paquistaneses sabem ler e escrever, muito menos que a proporção de países com renda per capita similar, como o Vietnã. Uma em cada três crianças em idade escolar no Paquistão não frequenta a escola. Das que frequentam, um terço abandona a escola até a quinta série, segundo a Unesco. O índice de garotas matriculadas está entre os menores do mundo, atrás da Etiópia e do Iêmen. "A educação no Paquistão foi abandonada aos cachorros", disse Pervez Hoodbhoy, professor de física da Universidade Quaid-e-Azam, em Islamabad. Ele critica abertamente as falhas do governo em resistir à expansão da militância islâmica. Esta pobre área rural ao sul de Punjab, onde o Talibã começou a obter progresso com a ajuda de grupos militantes, tem uma das maiores concentrações de madrassas do país. Das mais de 12 mil madrassas registradas no Paquistão, cerca de metade estão em Punjab. Especialistas calculam que os números são ainda maiores: quando o estado tentou contá-las, em 2005, um quinto da área nesta província recusou o registro. Apesar das madrassas corresponderem a somente cerca de 7% das escolas primárias do Paquistão, sua influência é amplificada pela inadequação da educação pública e a religiosidade inata das áreas rurais, onde vivem dois terços da população.
A escola primária pública para meninos nesta vila é o fiel retrato das gerações de negligências que trouxeram a muitos paquistaneses pobres o sentimento de abandono por parte do governo. Shaukat Ali, de 40 anos, um homem alto, com jeito sério, que ensina para quinta série, disse ter pedido ajuda financeira a todos, incluindo oficiais do governo e do exército. Um canal de televisão até fez uma reportagem sobre o assunto. "O resultado", disse ele, "foi zero". Um oficial do governo responsável por monitorar as escolas na área, Muhamed Aijaz Anjum, disse conhecer os problemas da escola. No entanto, ele não tem carro, nem escritório, e seu orçamento anual para viagens é de menos de US$ 200; ele afirmou ser incapaz de fazer qualquer coisa. Com pouco lugar para avanço, no que permanece sendo uma sociedade feudal, muitos paquistaneses pobres não acreditam que a educação pode melhorar suas vidas. O índice de evasão escolar reflete isso. Um dos melhores alunos de Ali, Muhamed Arshad Ali, recebeu a oferta de uma bolsa para continuar os estudos depois da quinta série.
Seus pais não permitiram que ele aceitasse. Ele abandonou a escola e arrumou um trabalho de passar roupas a ferro, por cerca de 200 rupees por dia, ou US$ 2,50. "Muitos pobres pensam que o trabalho assalariado é só para os ricos", disse Ali. "Eles não acreditam no resultado final da educação." Em Punjab, a província mais populosa do país, a falta de esperança e a negligência abriram um espaço, preenchido pelas escolas religiosas. "As madrassas têm se multiplicado", disse Zobaida Jalal, membro do parlamento e ex-ministro da Educação.
O fenômeno começou na década de 1980, quando Zia deu às madrassas dinheiro e terras, por meio de uma política, apoiada pelos Estados Unidos, de ajudar os combatentes islâmicos a lutar contra as forças soviéticas, no Afeganistão. As escolas islâmicas também são vistas como oportunidade de emprego. "Quando alguém não vê um futuro para si, compra uma mesquita e senta nela", disse Jan Sher, cuja vila, Shadan Lund, localizada ao sudeste de Punjab, se tornou uma fortaleza militante, com madrassas agora superando escolas públicas em números. A pobreza também ajudou a expandir as matrículas em madrassas, que servem como uma rede de segurança, ao oferecer abrigo e alimento para as crianças pobres.
"Como alguém que ganha 200 rupias por dia pode custear as despesas de cinco crianças?", perguntou Hafeezur Rehman, servente da madraçal Jamia Sadiqqia Taleemul Quran, em Multan, a principal cidade ao sul de Punjab. A escola abriga e alimenta 73 garotos de vilarejos pobres. O ex-presidente Pervez Musharraf tentou regulamentar as madrassas, oferecendo incentivos financeiros, se elas concordassem em adicionar disciplinas gerais ao currículo. Porém, depois de receber o dinheiro, muitas se recusaram a permitir o monitoramento das aulas. "O projeto de reforma falhou", disse Javed Ashraf Qazi, general aposentado que serviu, na época, como ministro da educação. Não havia madrassas em Mohri Pur no final dos anos de 1980, quando Ali começou a ensinar. Hoje, existem pelo menos cinco.
A maioria é afiliada a um ramo do Darul Uloom, na cidade vizinha de Kabirwala. Trata-se de um seminário deobandi fundado em 1952, cujos líderes em outras partes do Paquistão têm ligações com o Talibã. Vários moradores locais acreditam que o seminário de Kabirwala é perigoso. Alguns de seus membros estiveram envolvidos na violência sectária contra os xiitas na década de 1990, dizem eles. "As pessoas parecem ter medo deles", disse Ali. "Não fazemos perguntas." Mesmo que as madrassas não criem militantes, elas criam uma visão de mundo capaz de tornar a militância possível. "A mentalidade deles quer interromper a música, escolas para garotas e festividades", disse Salman Abid, pesquisador social baseado ao sul de Punjab. "A mensagem deles é que aqui não é a vida real. A vida real vem depois" – depois da morte. Em um dia recente, o seminário de Kabirwala estava agitado. Oficiais mostraram salas com garotos encurvados sobre o Corão, lendo e se balançando. Uma cozinha completa tinha um forno industrial de pão. Flores adornavam os corredores. A base para um novo dormitório havia sido iniciada. Havia também uma seção para garotas, com entrada própria, onde várias de jovens cantavam em uníssono, seguindo instruções de uma voz masculina que vinha de trás da cortina. "Somos apaixonados por esse trabalho", disse Seraj ul-Haq, professor de informática, que faz parte da família fundadora do seminário. Os professores pregam sobre restrições. A newsletter de fevereiro indicava uma lista de tabus: dia dos namorados (São Valentim), música, mulheres urbanas que usam "perfume importado", falar sobre direitos das mulheres. Os atentados suicidas não eram nem incentivados, nem condenados. A ideologia pode ser rígida, mas oferece a promessa de respeito, um atrativo poderoso para jovens das classes sociais mais pobres.

Waqar Gillani contribuiu com a reportagem de Mohri Pur e Lahore, Paquistão.

4 comments:

Ana Carolina said...

oi cArol,
bom, me chamo Olivia, e moro em Belem do Pará no Brasil.
na verdade nao estou comentando pela sua recente postagem sobre a educação no paquistao, apesar de ter gostado muito dela, estou comentando sobre a sua postagem sobre relacionamento à distancia.
eu, na verdade, acabei de postar em meu blog "stay away from juliet" sobre como um cara que mora longe (claro, nao tao longe que voce e o seu amor - ele mora no sul do pais) está conseguindo mexer e muito comigo.
Seu post me deu alguma luz sobre algumas coisas e farei o que voce aconselhou.
Enorme beijo, e obrigada de novo.
Oli

marinez said...

entao Carol,li a reportagem...otima por sinal...eh uma pena que nao haja escolas suficientes pra todos,mas a populacao eh muito grande..em parte penso eu que eh tambem falta de responsabilidade dos pais..pra que ter 5 filhos se nao tem condicoes de sustenta-los e educa-los..eh muito triste,mas eh como o interior do Brasil..qto mais pobre mais filhos tem,e colocam a culpra no governo e no caso Pakistao a cultura..no Brasil temos escolas mas muitas pessoas parm na quinta serie...porque?porque nao tem incentivos de estudar,porque quando se quer faz....tem muita carinha linda no Orkut que nao sabe escrever e nao temos os problemas do Paquistao....se o Paquistao tivesse as escolas que o Brasil tem estaria entre os melhores ensinos do mundo..vamos torcer pra haver mais justica no mundo..
bju

Penny said...

Oi, Carol! Eu sou a Bárbara, que te entrevistou para um trabalho da USP por e-mail. Favoritei seu blog, sempre que der venho comentar, tá?

Não tem muita coisa mais triste do que ver um país sem esperanças de melhora na educação. No Brasil a coisa já é feia, mas tem muuuita coisa boa também. Eu acho que o problema no Paquistão não é a religião. Eles têm, sim, o direito de ensinar a cultura deles nas escolas, como se faz no Brasil, onde boa parte das escolas oferecem um ponto de vista cristão. O problema é o extremismo, o radicalismo. Também, e principalmente, a falta de uma ação do governo tanto para melhorar o ensino quanto para mudar a mentalidade do povo que, como diz a reportagem, não acredita nos resultados da educação.

Carol said...

com certeza mto triste..
case pior que aqui

marinez vc se expressa muito bem

Olivia- vou visitar o seu blog, obrigada

penny- eh realmente o radicalismo atrapalha, o intuito de ensiar eh otimo o problem foi nao incluir outras materias, eu tive aulas de religiao, mas tive outras materias exencias para minha formacao

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