Monday, 31 August 2009

O encontro!!!!!!!!

oieeeeee, mandei alguns e-mails para quem lembrei de contato que gosta de um pak-indiano-egipcio-etccccc da vida
Mas todos estão convidados, basta me enviar um email que eu confirmo
será nesse sábado, se todos estiver de acordo, será de noite (devido a quebra do jejum do Ramadan), eu manderei os detalhes por email

espero vocêsssssssss

Amor x Carreira

Fim de semana foi entre a cruz e a espada...
Como muitos de vocês sabem, eu fiz curso de comissária, e com o proposito de ficar mais perto do meu amor, tenho tentado companhias aéreas do Oriente Médio.

Eis que nesse sábado a Qatar Airways veio novamente para São Paulo e eu fui tentar. No open day eu passei, no domingo foi as provas de inglês e dinâmicas, e nessa parte eu passei também... mas na terceira parte não passei para as entrevistas finais que seriam hoje e amanhã...

Senti uma mistura de decepção com alívio...

Decepção por um sonho, por ele, por minha família e amigos que estavam esperançosos... e alílio pelo fato de uma norma da empresa na qual se eu juntasse a eles assinaria um contrato no qual eu deveria me manter solteira pelos 3 primeiros anos de empresa... e elas foram totalmete claras, escolha entre o amor ou a carreira nesse momento.

Quando as recruteirs falaram isso eu fiquei totalmente apreensiva, eae o que fazer?????

Eis que decidi deixar nas mãos de Deus, que Ele fizesse o que achasse melhor, eu iria dar o meu melhor e deixaria Ele guiar o meu caminho...

Estou muito triste por não ter passado agora, mas sei que poderei tentar outras vezes.


Ás vezes, agente fica em uma situação, aonde o coração está totalmente apertado, não sabia mesmo o que fazer!

Agora, estamos tristes, sem planos e sem esperanças algmas sequer.. minha mãe disse que sente que todas as coisas estão nas minhas costas, e que ela não vê ele se mexendo para que agente fique junto, ..... se certa forma eu concordo...

E sinceramente nem consegui ir trabalhar hoje, quis um dia pra mim, depois de um finde cheio de nervosismo e eliminações...queria pensar no que faria daqui pra frente, o que iria escolher ou tentar... porque parece que nada tem dado certo!!!!!!!!!

Thursday, 27 August 2009

Explosão durante o Ramadan

Explosão mata 12 perto da fronteira do Paquistão com Afeganistão

Em Islamabad
Ao menos 12 policiais de fronteira do Paquistão foram mortos nesta quinta-feira em uma suposta explosão suicida na principal passagem para o Afeganistão, informaram autoridades do governo.
"Eles estavam quebrando o jejum quando um suicida se explodiu próximo deles. Até agora, nós tivemos informações de que 12 pessoas foram assassinadas",informou pelo telefone à Reuters um membro do governo de Jamrud, a principal cidade na região Khyber.
Ele estava se referindo ao jejum realizado pelos muçulmanos durante o mês sagrado do Ramadã.
(Reportagem de Zeeshan Haider) fonte: Uol.com.br

Triste ver o respeito dos próprios pelos feriados religiosos, parecem que ficam mais rebeldes!

Ops! Sorry me!

Peoplessss (huhauhahau no s)
ë o siguinte, tô fazendo uns bagulio ae, e tempo está curto, a inspiração volteu com a corda todaaaaaaaaaaaaaaaaa deu pra perceber que o número de posts aumentou esse mês, recebi alguns e-mails elogiando o blog, fico muito feliz que vocês estejam gostando, qualquer crítica também podem me enviar, eu aceito da mesma forma, é ótimo para o nosso crescimento. desculpem a demora na resposta, mas sempre qu dá eu respondooooo, o que mais demora são as traduções para Urdu que também tenho recebido bastante pedidos, mas dependo dele pra traduzir para mim, e a energia lá vive faltando...

Vou terminar essa correria em breve, espero que até a semana que vem o blog volte a ter mais posts e novidades.

=) Bom finde pra todos e rezem por mim (voou precisarrrrrrrrrrr mtooooooooooooooooooo)

Sunday, 23 August 2009

Comidas típicas do Paquistão

Os paquistâneses comem muito na época do Ramadan, veja alguns pratos mais encontrados nessa época:

Fruit Chaat: uma mistura de frutas básica (nossa salada de frutas)


Pakora é um prato das culinárias da Índia e do Paquistão, muito condimentado, com vegetais, ervas (geralmente coentros) e especiarias.

Os pakoras de cebola são feitos em forma de bolas, envolvidos em farinha e fritos. São realmente apetitosos e é um prato muito forte .



Samosas :




Samosa (pastel de vegetais) o pastel mais famoso da culinária indiana e paquistanesa... Uma delícia à parte !

Ingredientes

500 gramas de farinha de trigo
200 gramas de ervilhas partidas
1 couve-flor pequena
2 a 3 batatas médias
1 xícara de água morna
3 colheres de manteiga derretida
1 colherinha de cominho
1/2 colherinha de feno grego
1/2 colherinha de gengibre ralado
1/2 colherinha de curry

Preparo

Massa:

Numa tigela, coloque a farinha de trigo, três colheres de sal e a manteiga derretida. Misture com as pontas dos dedos, acrescentando água devagar. Sove até obter uma massa homogênea e leve. Deixe descansar enquanto prepara o recheio

Recheio

Cozinhe as ervilhas (deixadas de molho durante a noite) até desfazerem-se. Cozinhe as batatas e a couve-flor de preferência ao vapor. Quando estiver tudo cozido, junte em uma panela à parte. Em uma frigideira coloque duas colheres de sopa de manteiga deixe derreter, acrescente sal a gosto, os temperos e deixe dourar, despejando em seguida na panela sobre a ervilha, a batata e a couve-flor, mexendo para misturar.

O recheio deve ficar com consistência cremosa. Faça pequenas bolas com a massa, abra em círculos, coloque o recheio, feche como um pastel, molhando as bordas com água e apertando com um garfo para selar. Pode-se também fazer como mostra a figura ao lado (quadros 4, 5 e 6), juntando os lados e dobrando-os com os dedos para dar o efeito da foto acima. Em fogo brando, frite as samosas em uma panela com óleo vegetal, em quantidade suficiente para as cobrir por completo. Escorra sobre toalhas de papel para tirar o excesso de óleo. Se preferível, podem ser assadas em forno. Para isso devem ser colocadas em fôrma untada e polvilhada com trigo para não grudar ou queimar.

Saturday, 22 August 2009

Escravidão moderna ainda domina no Golfo Pérsico

Fonte: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4591541,00.html?maca=bra-aa-news-874-rdf

No Golfo Pérsico a situação de centenas de milhares de trabalhadores estrangeiros está atrelada ao empregador. Bahrein e Kuwait concederam-lhes agora mais direitos. A "escravidão moderna" chegou ao fim?

Ilhas das Palmeiras em Dubai, torres reluzentes em Qatar, plataformas de extração de petróleo em Abu Dhabi: tudo isso não seria possível sem as centenas de milhares estrangeiros que lá trabalham.

As economias das monarquias do petróleo no Golfo Pérsico se baseiam no trabalho de imigrantes. Seu visto de trabalho está acoplado ao emprego: quem quiser procurar outro trabalho necessita da permissão do empregador, que é denominado "garante" ou "patrocinador". Em árabe, o sistema se chama kafala.

Um trabalhador que é maltratado pode reclamar, mas arrisca-se a perder tudo. Sarah Leah Whitson, ativista da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), explica que "Consequentemente ele talvez perca o emprego – e o direito de viver no país. E como o visto está atrelado ao patrão, o empregado não tem direito de ir e vir nem de escolher um emprego".

O sistema kafala

O ministro do Trabalho do pequeno reino de Bahrein compara isso à escravidão e quer mudanças. Desde o início deste mês, entrou em vigor uma nova lei, segundo a qual estrangeiros têm o direito de trabalhar onde quiserem. O imigrante não precisa mais da anuência do antigo empregador para trocar de emprego.

Tarek Yousef, reitor da Escola de Governo de Dubai, diz que não é nenhuma surpresa que Bahrein seja precursor na questão. Segundo Yousef, de todos os Estados do Golfo, Bahrein é o que apresenta mais abertura política, respeita a liberdade de imprensa e tem um Parlamento que funciona, tem voz, e é receptível a opiniões externas.

O sistema kafala é criticado mundialmente como a grande mácula na imagem dos países do Golfo. O rei de Bahrein quer ir mais além e pretende adotar mais regras internacionais, como no direito trabalhista. Assim, ele pretende atenuar também o elevado nível de desemprego.

Mercado de trabalho mais eficiente

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Economia dos Estados do Golfo depende de imigrantes
O desemprego é, aliás, um problema que atinge todos os Estados do Golfo Pérsico. Para os habitantes locais, a maioria dos trabalhos executados por migrantes do Paquistão ou Bangladesh são muito mal remunerados. E os melhores empregos são ocupados, geralmente, por trabalhadores ocidentais com melhor formação profissional.
Por esse motivo, a partir de agora em Bahrein, quem empregar estrangeiros tem que pagar uma taxa. Esse dinheiro será destinado à formação profissional da população local.

No entanto, a resistência dos empregadores em Bahrein é grande, afirma o reitor da Escola de Governo de Dubai, Tarek Yousef. "Eles não estão nada satisfeitos, pois agora têm que ser muito mais competitivos em termos de remuneração. Para que as pessoas continuem a trabalhar para eles, não adianta mais negar a permissão para a troca de emprego. Em minha opinião, o mercado de trabalho agora ficará mais dinâmico e eficiente".

Bom e velho capitalismo

Recentemente, o Kuwait também anunciou reformas. Quem passar dois anos trabalhando de forma íntegra no país poderá trocar o posto de trabalho à vontade, disse o ministro responsável pela questão.

Para Yousef, os Emirados Árabes Unidos (EAU) poderão ser os próximos. "No momento eles estão, segundo me consta, avaliando as opções. E se os EAU forem nesta direção, então talvez Omã e Qatar os acompanhem."

Contudo, nem todos compartilham o otimismo do politólogo. A indústria da construção civil, por exemplo, não se dará facilmente por vencida, já que o antigo sistema trazia óbvias vantagens para o setor.

Eckhart Woerz, diretor do departamento de Economia do Centro de Pesquisas do Golfo em Dubai, explica que no antigo sistema: "Não se paga pela formação profissional da força de trabalho, não se paga quando ficam desempregados, não se paga aposentadoria. Todos os encargos sociais são terceirizados, por assim dizer, de forma brutalmente capitalista. Admitamos: é o 'bom e velho' capitalismo, não há outra definição".

Autor: Carsten Kühntopp

Friday, 21 August 2009

Diário de Viagem - Semana 4

Diário da Viagem ao Paquistão- Quarta e última Parte

Segunda-feira (19 de novembro de 2007)
Bahawalpur – perto do vilarejo de Bela Khan (102 km)


O que eu iria encontrar pelo caminho a partir de agora era imprevisível. Desta vez eu não conhecia mais ninguém para me dar um teto ou um prato de comida e sabia que contar com a sorte que eu tive em Multan não era uma boa idéia. Apenas poderia me preparar para acampar em algum lugar pelo meio do caminho e levar comida para alguns dias comigo.

Pela manhã eu deixei Bahawalpur por uma estrada bastante diferente da que eu me acostumei a percorrer aqui no Paquistão, desta vez o caminho era ruim e com muitos buracos e defeitos. Pensei que o caminho seria assim até eu chegar ao meu destino, mas por sorte estava enganado. Depois de 10 quilômetros eu entrei novamente na autopista (National Highway n. 5) e voltei a pedalar da forma que estou acostumado.

Mais uma vez contei com a sorte e com a ajuda dos caminhões que pasavam ao meu lado e por vezes geravam o “vácuo” que eu precisava para escapar do vento e desenvolver uma velocidade boa. Com isso, consegui passar pelo caminho monótono e desértico mais rápido até um momento que acreditei estar na metade do caminho até a próxima cidade e resolvi parar para acampar num posto de gasolina do caminho.

Procurei um posto grande, 24 horas e com um segurança. Quando encontrei pedi para acampar no pequeno gramado no fundo do posto de gasolina, que ficava levemente afastado da estrada, por onde passavam os caminhões mais barulhentos que eu já vira. A princípio tive bastante sorte, o posto era bom, tinha um banheiro limpo e não fazia muito frio, o suficiente para eu não precisar tirar meu equipamento de frio da mala.

Depois de uma banho frio e comer no restaurante que ficava a poucos metros do posto de gasolina eu entrei em minha barraca e somente por volta das 9 horas da noite eu resolvi dormir. No entanto, descobri que mesmo estando numa região seca e desértica, a noite era fria e úmida. Fui obrigado a colocar a segunda capa da barraca e até mesmo a entrar no meu saco de dormir para completar a barulhenta noite.


Terça-feira (20 de novembro de 2007)
Perto do vilarejo de Bela Khan – Sadiqabad (104 km)


Acordei cedo, porém sabia que teria que esperar um bom tempo até a minha barraca secar. Da forma que ela estava eu não conseguiria guardá-la. Aproveitei o tempo para tomar um café da manhã e guardar tudo enquanto esperava a barraca secar. Nesse meio tempo, entre acordar e partir, eu vi uma caminhão carregado de óleo diesel chegar no posto e ter a válvula que controlava a saída do combustível estourarda. Isso resultou num banho de diesel em alguns homens que tentavam controlar o desastre e numa pequena piscina no chão do posto.

Após o show eu já estava coma barraca seca e pronto para guardá-la. Mais alguns bons minutos e pronto, tudo certo para ir embora. Subi na bicicleta e segui na direção de Sadiqabad, a próxima cidade de porte médio em meu caminho. Pensei que o caminho seria fácil com o dos dias anteriores, mas me enganei. O vento soprou contra mim hoje e os caminhões não foram tão amigos quanto os dos dias anteiros.

Meu início tardio resultou numa chegada igualmente tardia. O caminho foi monótono e igual ao dos outros dias, exceto pelo fato de hoje eu ter visto não apenas um caminhão tombado na pista, mas sim 3 e outros veículos batidos. Fora isso o caminho foi feito de deserto e poeira. Quando cheguei em Sadiqabad, queria apenas encontrar um hotel para passar a noite e ter um bom descanso.

Perguntei para um sujeito que falava inglês onde poderia encontrar um hotel e ele me indicou 2. Melhor do que isso, mandou um de seus funcionários me levar até o hotel mais próximo. Pelo caminho logo descobri que o funcionário além de não falar inglês (até aí tudo bem), não tinha a mínima idéia de onde ficava o hotel e também era completamente analfabeto (assim como boa parte da população do Paquistão). O resultado da ajuda do funcionário foi nulo, já que além de tudo ele me levou para um hotel que não aceitava estrangeiros.

Percebi que eu estaria melhor sozinho que acompanhado por aquele sujeito que parecia mais perdido do que eu. Segui então para o centro da cidade com a esperança de encontrar um lugar para passar a noite. Logo encontrei o que queria e este hotel sim aceitava estrageiros, provavelmente o único da cidade que fazia isso. Instalei-me alí e depois segui para um restaurante para comer e descansar para continuar minha jornada pelas estradas do Paquistão.

Quarta-feira (21 de novembro de 2007)
Sadiqabad – Ghotki (91 km)


Logo que acordei ao som de marteladas, serras, buzinas e jumentos debaixo da minha janela, localizada no centro de Sadiqabad, percebi que seria bom não perder muito tempo iniciar minhas atividades. Minha prioridade hoje era arrumar a roda da minha bicicleta que havia tido um raio quebrado ontem logo que entrei nesta cidade. Tomei um dos raios reservas que levo comigo, que por sinal já estão acabando e desci até uma espécie de sala de motores onde eu havia sido obrigado a colocar minha magrela.

Alí troquei o raio quebrado e descobri que havia mais alguns probremas na roda. Enfim, arrumar tudo e alinhar a roda me tomou mais de 30 minutos e só então eu podia ir tomar meu café da manhã. Não sei porque, mas eu já não aguento mais tomar o café da manhã daqui. Nada contra chapatis e vegetais apimentados, mas creio que meu corpo está pedindo algo mais com a cara do que eu comia no Brasil: um pão francês, queijos, yogurt e frutas.

Como eu sou obrigado a comer o que tiver para poder pedalar, eu saí para as ruas em busca de algo. O pão de estilo europeu e o queijo eu não encontrei, mas já sabia que não encontraria – ainda mais em Sadiqabad. O yogurt eu também não encontrei, mas poderia haver em algum canto da cidade. Por fim, encontrei frutas, que não existem numa variedade enorme como no Brasil, mas sempre tem uma cara boa. A frutas que sempre há por aqui são: banana, um tipo de mexerica, uma goiaba que tem forma de pêra (é verdade), maçãs e a favorita deles, romã, que não tem comparação com a pobre romã que eu via no Brasil. Aqui a romã tem quase um tamanho de um côco pequeno, tem uma cor viva e conta com sementes bastante suculentas.

Com o que eu enontrei, fiz meu café da manhã com frutas, incluindo uma romã, que de tão grande deu até trabalho para comer. Ao final da minha refeição e de arrumar tudo para seguir viagem já era próximo das 10 da manhã, mas eu tinha a vantagem de ter que pedalar menos de 100 quilômetros hoje. Pela pobreza das ruas desta cidade eu cheguei até a auto estrada e logo me deparei com o que seria o meu maior problema hoje: o vento contra (mim).

Nenhum momento da pedalada foi fácil e eu nem tinha idéia da onde iria chegar. Havia apenas visto um pequeno povoado chamado Ghotki no mapa e achei que seria uma boa ficar por alí hoje. Com minha velocidade comprometida devido ao vento que me segurava de forma incrível, segui de forma mais lenta e parei algumas vezes para descansar. Minha salvação foi entrar atrás de um lento caminhão que passava na estrada e seguir atrás dele, protegido do vento.

De toda a forma, minha pedalada nesta região árida do país foi mais demorada que o normal no dia de hoje. Cheguei em Ghotki próximo do final da tarde e percebi que o local era mesmo pequeno e não contava com estrutura alguma. Para a minha sorte, depois de pedalar um pouco pelo local eu encontrei um pequeno hotel na beira da estrada, já na saída da pequena cidade.

Não era um local exemplar, mas era suficiente para uma noite e para não precisar montar minha barraca. No final da tarde já fazia frio e eu tomei uma banho rápido para então cair na cama e me preparar para descansar e continuar minha pedalada até a cidade de Sukkur amanhã.

Quinta-feira (22 de novembro de 2007)
Ghotki – Sukkur (61 km)


Ao começar o dia de hoje eu percebi que já estava cansado de pedalar sem parar por tantos dias. Precisava de um descanso e esse descanso eu me daria em Sukkur minha próxima parada. Mesmo assim o descanso teria que ser curto, pois meu visto para o país estava acabando eu precisava chegar até Quetta para estendê-lo e ganhar mais alguns dias no país o que seria suficiente para terminar minha pedalada por aqui.

Depois de um café da manhã de frutas e um chapatti eu segui para a estrada, que passava na porta da hospedagem onde eu estava ficando. Alí percebi que não me falatava muito para chegar em Sukkur, quase 60 quilômetros e isso seria bom para mim, que já estava cansado. O ruim foi que o vento ainda seguia contra mim e não me dava nenhum descanso pelo caminho. Hoje eu já não tinha nem mais energia para acelerar e conseguir entrar no “vácuo”da traseira de uma caminhão. Contentei-me em seguir num ritmo mais lento, sabendo que não estava longe de meu objetivo.

Como havia saído cedo de Ghotki eu consegui chegar não muito tarde em Sukkur, onde demorei para encontrar um hotel, já que a cidade era dividida e contava com o lado pobre, de hotéis baratos, mas completamente insalúbres, e o lado menos pobre, de hotéis melhores, porém caros. Percebi que ficar no lado pobre seria um desafio e para descansar (a única coisa que eu queria) seria quase impossível. Segui então para o lado menos pobre, onde consegui negociar um preço melhor em uma das hospedagens e então ficar por alí por uma noite.

Comi bem hoje, descansei e planejei minha ida até as ruínas de Moenjo Daro, que ficava numa cidade próxima de Sukkur, aonde eu iria de ônibus amanhã.

Sexta-feira (23 de novembro de 2007)
Sukkur – Moenjo Daro – Sukkur (ônibus)


Hoje não coloquei o despertador para tocar e despertei um pouco mais tarde, mas ainda a tempo de seguir para Moenjo Daro e ver um pouco das ruínas dessa civilização de mais de 5000 anos. Logo pela manhã percebi que não seria fácil chegar lá. Do meu hotel tive que tomar um rickshaw até o terminal de ônibus, a cerca de 5 quilômetros de distância. Depois tomei um ônibus até a cidade de Larkana, base da família Bhutto e localizada a apenas 30 quilômetros de Moenjo Daro.

Quando cheguei em Larkana, depois de 1 hora e meia de viagem, tive que tomar outro pequeno táxi até o local da onde saiam os veículos para Moenjo Daro. O problema foi que no caminho o taxista encucou que eu tinha que ir até a polícia para obter um guarda-costas e depois segui para onde eu queria. Ele parou numa delegacia e os policiais deram risada da cara dele e o mandaram para outro lugar. No outro lugar o policial fez uma cara de “saco-cheio” e disse que eu poderia ir sozinho que a escolta policial seria me dada em Moenjo Daro.

Segui então para a van lotada, que levou 1 hora para percorrer os 30 quilômetros que separavam as duas cidades. Quando em Moenjo Daro, os policiais me chamaram para a sala deles, onde eu teria que preencher alguns papéis e pegar meu policial guarda-costas. Conversei com os policiais, que gostaram da minha barba muçulamana, e depois de alguns minutos eles me disseram que não havia problema com brasileiros e me deixaram seguir sem ninguém, para a minha alegria.

Conversando com as pessoas descobri que agora, que seria o pico da estação turística do país, eu havia sido o único turista da semana toda. Todos os estrageiros haviam fugido do país com medo de algum conflito e os que haviam planejado vir, mudaram de idéia após o Estado de Emergência declarado por Musharraf há pouco tempo. Em outras palavras, eu tinha as ruínas de Moenjo Daro quase que só para mim.

Não precisei de muito tempo para percorrer todo o local e depois de 3 horas alí já era hora de voltar para Sukkur, pois sabia que a viagem de volta também seria longa. Assim dei início ao retorno. Um rickshaw até o cruzamento das vans. Uma van até Larkana. Um rickshaw até o terminal de ônibus. Um ônibus até Sukkur. E um rickshaw até o hotel onde eu estava. Enfim, o passeio durou o dia todo, sendo que eu passei mais horas dentro dos desconfortáveis transportes que nas ruínas em si.

Agora eu tinha que deixar tudo pronto para segui na direção de Quetta amanhã ainda.

Sábado (24 de novembro de 2007)
Sukkur – Shikarpur (44 km)


Já me sentia bem para pedalar novamente e não levei muito tempo para deixar tudo pronto para seguir em frente. Como não queria perder muito tempo para me organizar, pedi um café da manhã do hotel. Esta simples refeição demorou mais que o normal e não foi nada de especial, mas o suficiente para me alimentar para uma boa pedalada.

Depois de comer eu já tinha tudo pornto para seguir em frente. Fui então para a estrada, onde tudo parecia normal. Em pouco mais de 1 hora de pedalada, comecei a sentir uma forte dor no estômago e não sabia o que era. Achei que poderia ser pelo café que eu havia tomado, mas na medida que a dor foi crescendo eu percebi que se fosse o café ele deveria estar estragado.

A dor foi se tornando tão intensa que eu já não conseguia pedalar. Fui obrigado a parar então na beira da pista, sentar no chão e apenas ficar parado, percebendo que eu tinha um grande problema agora. Quando levantei senti uma forte tontura e ânsia de vômito. Achei melhor vomitar aquilo que estava me fazendo mal e vomitei, mas não tanto quanto eu esperava e, aparentemente, longe do necesário também.

Subi na bicicleta mais uma vez e com a velocidade extremamente baixa eu segui em frente. Quando cheguei numa bifurcação não sinalizada eu resolvi parar no posto de gasolina e perguntar qual era o caminho para Jacobabad, onde eu queria chegar. Eles disseram que era o da direita. Perguntei então se eles tinham água, eles então perceberam que eu não estava bem e disseram que iriam me trazer água. Sentei então numa cadeira e esperei.

Quando a água chegou eu tomei boa parte da garrafa num gole só e depois deitei numa cama suja que eles havia trazido para mim. Acabei dormindo alí e quando levantei minha ânsia estava ainda mais forte, assim como as dores que eu sentia no estômago. Percebi que era hora de vomitar. Desta vez eu vomitei tudo ou quase tudo. Mas junto com o vômito, veio também uma diarréia. Nesse momento tive que admitir que eu não chegaria em Jacobabad hoje. Teria que ficar por Shikarpur e seguir viagem pela manhã.

Perguntei se havia algum hotel na cidade e eles disseram que sim, porém como turista, eu era obrigado a ser escoltado por policiais nesta cidade. Assim, eles ligaram para a polícia, que chegou em pouco tempo e me conduziu até a delegacia da pequena cidade. Na delegacia que parecia mais uma mercado de peixe, eu preenchi meus dados em algumas folhas e depois tive que esperar um policial chegar para me conduzir até o hotel, localizado a 50 metros da delegacia.

Devo confessar que aquilo não era nada agradável. Eu não podia ir para lugar algum sem o policial e eles eram chatos. O hotel era uma porcaria e sujo e os policiais ficavam a cada 5 minutos batendo em minha porta ou entrando em meu quarto. Um deles até arrombou a porta do meu quarto, para meu susto, pensando que um grito que ele havia escutado viera de dentro do quarto que eu estava. Bem, em resumo, a noite não foi fácil.

Eu que não tinha apetite algum, me contentei em comer algumas tangerinas e bananas, para então guardar minhas energias para conseguir deixar a cidade ainda amanhã.

Domingo (25 de novembro de 2007)
Shikarpur – Jacobabad (41 km) – Quetta


Às 6 da manhã os policiais já batiam à minha porta, o que me fez despertar nenhum um pouco feliz. Falei para eles pararem de bater na porta e que eu já iria começar a arrumar tudo para ir embora em pouco tempo. Depois de mais algumas dezenas de batidas na porta e de entrarem no quarto, eu estava com tudo pronto para seguir viagem.

Não me sentia muito bem, mas sabia que poderia pedalar um pouco. Mesmo assim, um veículo chegou até a porta do pulgueiro onde eu estava ficando e me obrigou a colocar a bicicleta na caçamba da caminhonete dele. Como não tinha escolha, coloquei. Ele então deu uma volta pela cidade e quando chegou na estrada, esperou um outro policial chegar e me levar escoltar até Jacobabad.

Este oputro policial estava de moto e me deixou pedalar. Assim, eu pedalei até Jacobabad, cerca de 40 quilômetros, o que não foi uma boa idéia, já que eu ainda não estava em condições de pedalar longas distâncias, devido à minha saúde. Quando chegamos em Jacobabad, os policiais disseram que me levariam até Quetta. Assim, eu pedalei até o limite onde eu poderia pedalar, a fronteira com o Balochistão. O motivo disso era simples, a 2 dias atrás foi morto um dos líderes e guerrilheiros da região, chamado Balach Khan Mari, parente de Nawab Akber Khan Bhugti, que foi morto no ano passado, pelas tropas do exército paquistanês. Isso resulou e resulta numa certa instabilidade na região que se opõe a Musharraf e se envolve em conflitos com os militares.

Da fronteira em diante, coloquei minha bicicleta na caçamba de uma caminhonete e segui em frente. Pensei que eles me levariam diretamente até Quetta, que estava a mais de 300 quilômetros dalí, mas percebi que não. A cada 10 quilômetros, eles faziam a troca, ou seja, eu tinha que pular de uma caminhonete para outra com minha bicicleta. Aquilo não era nada agradável, pois o tempo perdido em cada troca não era pequeno, sendo que em cada veículo havia 4 ou 5 policiais e nenhum deles me ajudava.

Depois de 7 caminhonetes e cerca de 50 quilômetros, eu percebi que aquilo era a coisa mais imbecil que eu já tinha visto. Apesar dos policiais não falarem inglês eu tentei me comunicar com eles para que eles me deixassem num ônibus direto para Quetta, o que seria menos doloroso que ficar trocando de veículo a cada 10 minutos e agüentando os policiais, o que talvez fosse o pior de tudo.

Eu já havia pedido isso antes, mas eles apenas havia me dito que me levariam até o terminal de ônibus, mas não levavam. Tive a impressão que eles gostavam de conduzir turistas pela estrada. Mas desta vez, estes policiais me levaram até o terminal de ônibus, que era no meio da estrada, no meio de uma cidade e no meio de um mercado de frutas, ou seja, algo completamente caótico. Os sujeitos do ônibus colocaram minhas malas e bicicleta no topo do veículo e quando eu entrei no ônibus percebi que não havia lugar para mim a não ser também no topo do ônibus.

Fui para cima e ganhei uma vista incrível enquanto viajava os 300 quilômetros que me separavam de Quetta. De cima do ônibus, eu pude ver o porque da polícia não deixar ninguém viajar sozinho pela região. O local é completamente deserto, para onde se olhe só se vê pedras e terra, nada mais. Até mesmo as cidades que me mapa mostrava, não era mais que um conjunto de casas feitas de barro. Percebi que mesmo sem os perigos dos terroristas, eu teria bastante trabalho para pedalar por alí.

A viagem durou cerca de 5 horas e somente do final do dia eu cheguei em Quetta, um pouco perdido nesta cidade fria, de pessoas bastante peculiares. Não há ninguém na rua que não use algum pano ou um tipo de chapéu diferente em sua cabeça. O motivo disso é simples, a população é simples e, basicamente, de origem tribal, como quase todo o Balochistão, região dividida entre o Paquistão, Afeganistão e Irã.

Fui então para o centro da cidade, onde para procurar um lugar para ficar dentro das noites frias de Quetta. Encontrar hotéis foi fácil, porém encontrar um para ficar foi mais difícil. Não sei porque, mas muitos deles estavam lotados (ou simplesmente disseram que estava lotados porque não queriam turistas e outros eram ruins de verdade, quase que indianos). Depois de diversas tentativas encontrei um lugar razoável para ficar, onde apenas coloquei minhas coisas e depois saí para comer.

Encontrei um restaurante bom e resolvi comer um peixe frito, o que parecia ser uma boa idéia. Comi bastante e logo percebi que era cedo demais para fazer uma refeição como essa, depois de todos os problemas que eu havia tido. Ao voltar para o hotel eu já não me sentia bem, mas o cansaço logo me levou para a cama e apenas adiou os efeitos desta pesada refeição.

Segunda-feira (26 de novembro de 2007)
Quetta


Ainda na cama, não demorei a descobrir que eu tinha sérios probelmas. Logo pela manhã eu já não conseguia mais sair do banheiro, numa disenteria complicada, que estava até me desidratando, de tanta água que eu estava perdendo. Pelos sintomas que eu estava tendo percebi que o que eu tinha era um parasita chamado Giardia lambia, geralmente chamada apenas de giardia. (eu tive isso, perdi 5 kilos em uma semana)

Estava arrotando bastante, sempre com gosto de “ovo”, sendo que eu não havia comido ovo, tinha uma disenteria forte e não tinha apetite. Enfim, tinha giardia. Agora precisava saber o que fazer para acabar com o problema. Já não queria perder meu tempo indo até um médico, pois o que ele iria me receitar eu já sabia. Resolvi apenas confirmar na internet, nuns sites de medicina e pronto, já tinha meu auto-diagnóstico e meu auto-medicamento. (também fiz isso hehehe)

Precisava tomar uma dose alta de tinidazol, a mesma droga que eu tomei contra a ameba, porém desta vez numa dose única e pesada, aparentemente suficiente para acabar com o meu problema. Comprei então o remédio, comprei yogurt e alguns probiótios para ajudar a recuperar a minha flora intestinal. Agora me restava descansar e não gastar energia. Fiquei vendo televisão e depois fui para a internet ver alguns e-mails, para resumir o meu dia.

Terça-feira (27 de novembro de 2007)
Quetta – direção à fronteira com o Irã


Acordei já me sentindo melhor. A diarréia havia acabado e já não me sentia tão fraco. Sentindo-me bem resolvi solucionar os probelmas que eu tinha com o meu visto, que iria acabar amanhã, assim para ficar mais no país eu teria que estendê-lo, porém para fazer isso eu teria primeiro que saber se eu poderia pedalar até a fronteira, o que eu teria que descobrir com a polícia.

Fui então até a delegacia da cidade e perguntei para o delegado se eu poderia pedalar até a fronteira. A resposta que ele me deu, eu já esperava: não. A polícia poderia me conduzir até fornteira se eu quisesse, fazendo dezenas de trocas de caminhonetes como eu havia feito antes, por isso, eles aconselhavam todos os viajantes a tomar um ônibus e evitar problemas.

Com essa resposta eu já não tinha muito o que pensar. Não havia mais razão para estender meu visto, sendo que eu já não poderia pedalar pelo país. Agora me restava arrumar tudo para deixar o país. Quando já tinha tudo pronto, resolvi então visitar uma fundação presente em Quetta, relacionada à saúde pública do Paquistão. A chamada Fundação Maulana Muhammadumar tinha uma papel importante na saúde de Quetta e de todo o Balochistão, já que a maioria da população desse estado segue para Quetta quando precisa de atendimento médico.

Após toda esta conversa, eu tinha pouco tempo para tomar meu ônibus até a cidade de Taftan, localizada na fronteira Paquistão/Irã. O ônibus sairia às 6 horas da tarde e levaria de 10 a 12 horas para chegar até o borda do país. Às 5:30 eu saí da minha hospedagem em direção terminal de ônibus e alí percebi o que me esperava. Por fora o ônibus parecia bom, mas por dentro não era muito confortável, especialmente para uma viagem de 12 horas, de qualquer forma, era o melhor que havia para lá.

A viagem começou e logo eu percebi qual seria a maior dificuldade, a estrada. A estrada era horrível, não contava com asfalto e estava impregnadas de pedras e buracos, o que fazia o ônibus trepidar bastante e o ato de dormir um desafio para qualquer passageiro. Mesmo assim, me esforcei para dormir e quando conseguia sempre havia algo para me acordar. O motorista acendendo as luzes do ônibus de brincadeira ou colocando a música mais alto que de costume, a polícia entrando no ônibus para me fazer descer e preencher papéis que não serviam de nada ou, simplesmente, todos descendo para comer e beber no meio do deserto.

Foi nessa viagem desconfortável, fria e insalubre que eu vi meus dias de Paquistão acabarem no meio desta noite e darem lugar para uma outra parte do mundo, o Oriente Médio. Mas esta já é outra história.

The End
=)
Espero que tenham gostado

Diário de Viagem: Sobre o Escritor e Ciclista- fotos

Fotos:
O CICLISTA / BIKER

Arthur Simões Cardoso Neto
Quem realiza o Pedal na Estrada são muitas pessoas, cada qual com sua contribuição a esta viagem, mas quem está sobre a bicicleta pedalando pelo mundo a fora é apenas 1 pessoa: Arthur. Apaixonado pelo novo, questionador e de espírito empreendedor, Arthur não se contetou em chegar apenas ao horizonte, mas quis ir além dele. Descobrir até onde a estrada o levaria foi uma motivação. Descobrir se a estrada tinha um fim, uma questão. Até o presente momento ele ainda se encontra na estrada em algum canto do globo e aparentemente ainda não respondeu esta questão.

Many are the people who make this project alive, everyone with it's own contribution to this trip, but who is on the bicycle cycling through out the world is just one person: Arthur. Fascinated by the new, curious and with an adventurer spirit, Arthur always wanted to go further, beyond the horizon and his vision. To know where the road would take him was his motivation. To discover if the road has an end, a question. Till the present moment he is still cycling somewhere around the globe and aparentelly, he did not answer this question yet.


His site: http://www.pedalnaestrada.com.br
Itinerary: http://www.pedalnaestrada.com.br/pages.php?recid=12
Travel notes: http://www.pedalnaestrada.com.br/pages.php?recid=16


4. Quarta semana / Fourth week (Bahawalpur - Taftan)

3. Terceira semana / Third week (Lahore - Bahawalpur)

2. Segunda semana / Second week (Gilgit - Lahore)

1. Primeira semana / First week (Lahore - Gilgit)

Pakistan album: http://www.pedalnaestrada.com.br/pages.php?recid=343

Contact: arthur@pedalnaestrada.com.br

Diário de Viagem- Semana 3

Diário de viagem no Paquistão- Terceira Parte


Segunda-feira (12 de novembro de 2007)
Lahore


Apesar de ter traçado meus planos para sair de Lahore ainda hoje, fui – como de costume – pego por alguns imprevistos. Ficar acordado até as 3 da manhã para terminar minhas atualizações ontem, foi um; ter leves problemas digestivos foi o outro. Não me sentia disposto o suficiente para começar a pedalar hoje, já que eu quero inciar a pedalar sem a previsão de parar tão cedo, devido à grande distância que serei obrigado a percorrer em apenas 2 semanas.

Com mais um dia em Lahore eu aproveitei para ver o que eu não havia visto. Caminhei por outras ruas, enviei alguns postais e visitei o Museu de Lahore. Em minha caminhada vi hordas de fotógrafos, cada um equipado com 2 ou 3 câmeras, apenas esperando alguma coisa acontecer na cidade, como advogados brigando com a polícia ou Bhutto provocando tumulto ou atentados.

Fora isso, nada de novo. O clima parecia estar ficando mais tenso na cidade, com a presença de Benazir Bhutto e mensagens de grupos terroristas afirmando que vão matá-la num atentado à bomba em Lahore. A hospedagem que estava cheia de turistas quando eu cheguei, 2 semanas atrás, agora já estava quase vazia e os visitantes continuavam migrando para a Índia. Apesar da leve tensão no país, eu estava decidido à atravessá-lo e era melhor fazer isso o mais breve possível, ou seja, amanhã.

Terça-feira (13 de novembro de 2007)
Lahore – Bulagary (101 km)


Não acordei com o despertador e quando despertei, mais tarde do que esperava, fiz tudo da forma mais rápida possível. Fechar as malas, comer, alongar meus músculos e despedir de todos. O problema foi que mesmo assim, só consegui sair para a rua por volta das 11 da manhã, que era tarde para iniciar um pedalada de 100 quilômetros numa época em que o dia acaba às 5 da tarde.

O melhor que me aconteceu foi que ao me despedir dos funcionários da hospedagem, comentei que iria parar numa cidade chamada Pattoki. O sujeito então disse que alí não havia nem hotel nem nada do gênero, mas ao mesmo tempo disse que morava nas proximidades dessa cidade. O melhor de tudo foi que ele disse que estava voltando para sua vila hoje e que se eu quisesse poderia ficar na casa dele por algumas noites.

Aceitei o convite e fui embora para a estrada. As ruas de Lahore não eram nenhuma maravilha e me deram bastante trabalho até sair do perímetro urbano da cidade. Somente depois de 20 quilômetros foi que a estrada começou a melhorar e se tornar mais possível de ser pedalada. A partir daí eu não parei muito, apesar das diversas pessoas que me cumprimentavam e me chamavam para conversar, tomar um chá, comer um chapati ou apenas sentar e descansar.

Parei apenas um vez no meio na estrada para comer um pouco e depois continuei. Quando cheguei em Pattoki percebi que se eu estivesse disposto a ficar por alí teria problemas mesmo. Uma cidade suja de beira de estrada, sem nenhum tipo de acomodação e lotada de gente. Segui então para a próxima cidade, chamada Habibabad, onde – segundo o mapa que Khadim havia desenhado para mim – eu deveria entrar à esquerda e seguir por alguns vilarejos até a vila de Khadim, Bulagary.

Os dias estavam cada vez mais curtos e hoje não foi diferente, às 4 da tarde o sol, já baixo, começou a se esconder atrás da imensa e espessa núvens de poluição. Às 5 horas da tarde me restava apenas poucos minutos para conseguir ver o que havia à minha frente. Foi exatamente nesta hora que eu entrei no estreito caminho para a vila de Khadim. Tive a sorte de poder contar com a ajuda de algumas pessoas que seguiram para lá de carroça e me guiaram até a vila.

Quando cheguei em Bulagary já era noite e eu não tinha a mínima idéia de onde eu deveria ir dentro daquelas ruas de terra sem nome e casas de barro. O local era maior do que eu imaginava também. Perguntei então para um garoto que passava na hora e perguntei se ele sabia onde era a casa de Khadim Hussein. Ele disse que sabia e se propôs a me levar até lá. Não precisei pedalar mais que 50 metros para chegar até a casa de Khadim. O problema foi que ele ainda não havia chegado em sua casa.

Mesmo na ausência de Khadim, a família foi muito simpática comigo me convidando para dentro da casa e me deixando a vontade, ainda que houvesse quase que apenas mulheres na casa e elas não pudessem falar comigo mesmo que soubessem falar inglês, devido à conduta imposta pela religião islãmica (mulher casada não fala, não olha e, muito menos, toca um outro homem). Tomei então um banho, coloquei meu largo traje muçulmano e esperei Khadim.

Durante minha espera chegou um amigo dele, que se indentificou como irmão de Khadim. Conversamos. Bem, tentamos nos comunicar um pouco com mímica e poucas palavras até que chegaram com meu jantar: 2 chapatis, uma porção de vegetais refogados no fogo a lenha do quintal e um copo d’água. Tinha fome para mais, mas fiquei quieto, diante da situação daquele aldeia, capaz de fazer qualquer imagem das secas do nordeste parecer um passeio no parque.

Logo que terminei de comer o amigo de Khadim, me levou para fora da casa para “me mostrar o vilarejo”. Obviamente não havia mulheres nas ruas, já era noite, no entanto parecia que todos os homens estava fora de suas casas. O agrupamento desses homens era algo curioso, sempre em volta de tipo de um nargileh (instrumento usado para se fumar tabaco) típico do Paquistão, com apenas um braço metático de cerca de um metro de diâmetro, porém numa base giratória, que facilitava a socialização da fumaça.

Apesar de dentro desse gigante cachimbo só se queimar tabaco, logo descobri que por alí as pessoas queimavam algo mais. Quase todos os homens do vilarejo fumavam hashish de forma delibarada. Seria fácil julgar esses homens que fumavam essa substância, mas depois de algum tempo com eles, percebi que eles nunca fumavam sozinhos e fora hashish eles não consumiam nenhum outro tipo de droga, nem mesmo álcool, que é mais recriminado que o próprio hashish por aqui. Caso algum deles fosse pego bebendo a metade da quantidade que um adolescente de 15 anos bebe no Brasil, aqui eles já teriam grande problemas com as pessoas, sendo tratados pelo o que a nossa sociedade chama de “drogados” e correndo o risco de ir para a cadeia.

Quando estava nas ruas desta aldeia, Khadim chegou. Com ele alí eu poderia falar com as pessoas, já que ele conseguia entender e falar razoavelmente inglês. Khadim fez questão de me levar para conhecer todas as rodas de amigos de sua aldeia, todas formadas em função do tabaco ou do hashish. Somente quando já era tarde e eu já havia conhecido quase todos os homens da comunidade, fui embora para a casa de Khadim para dormir.

Quarta-feira (14 de novembro de 2007)
Bulagary – Sahiwal (84 km)

Acordei cedo, pelo menos para o Paquistão, onde as pessoas não conseguem acordar antes das 8 da manhã e as escolas começam as aulas às 9 da manhã. Khadim já estava acordado e sua mulher já preparava o café da manhã de todos no fogão a lenha instalado no chão. Comi o mesmo que no jantar de ontem, com a diferença que hoje havia um copo de lassi, que parecia estar estragado, mas o bebi mesmo assim. Logo que acabei de comer, Khadim me convidou para dar uma volta em sua vila e conhecer a vida local.

Eles começou pela sua família, que incluindo tios, primos e todos os parentes possíveis, totalizava quase que o vilarejo inteiro. Todas as casas eram feitas de barro com tijolos, ou de cocô de vaca e barro apenas. As ruas tinham uma poeira avermelhada mais fina que talco, que subia a cada vez que um pé tocava o solo. Os búfalos saiam sozinhos às ruas, onde as cabras já estavam fazia algum tempo, onde os cachorros latiam e as galinhas fugiam das pessoas.

Depois de mostra-me as ruas, Khadim foi me mostrar novamente as pessoas, que em plana manhã já se reuniam para fumar o que fosse. Cada círculo de pessoas me oferecia alguma coisa, gerelmante um copo de chai feito com leite de búfala tirado na hora. Após os amigos, seguimos para outros pontos de interesse como a escola local, a oficina do artesão e o cemitério da vila. O mais curioso foi o cemitério, pois não havia sinal algum para identificar os túmulos, sendo todos apenas um monte de terra batida num terreno repleto de montes de terra batida.

Se eu deixasse, Khadim ficaria me mostrando a vila até a noite, mas eu tinha que ir embora, caso contrário acabaria passando a noite por alí novamente. Voltei então para a casa de onde havia deixado minhas coisas e arrumei tudo para seguir em frente. Despedi-me de todos e segui em frente, com a intenção de chegar em Harappa, mas sem saber se eu chegaria ou não.

Na estrada eu apenas pedalei em direção ao oeste, contra um leve vento e entre algumas pequenas cidades e muitos postos de gasolina, quase sempre amplos e bastante organizados. Ao final da tarde eu estava em Sahiwal, a maior cidade da região, logo antes da vila de Harappa, que era o meu objetivo. Não sabia o que eu encontraria em Harappa e nem a distância que eu teria que percorrer para chegar até lá. Com o sol em já seus últimos minutos eu resolvi ficar por Sahiwal e não arriscar uma pedalada extra.

Parei então a bicicleta no acostamento da estrada, já na parte urbana da cidade, com a intenção de pensar o que eu faria. Infelizmente percebi que pensar não seria possível alí. Em poucos minutos já havia uma roda de mais de 10 pessoas ao meu redor, todas rindo ou falando algo que eu não tinha nem idéia. Isso não era comum no Paquistão, mas estava acontecendo agora. Era um momento indiano fora da Índia (mas não tão longe de lá).

Iria ficar na cidade, mas era melhor encontrar um lugar para ficar, pois já havia percebido que não teria paz com aquelas pessoas. Parei então num hotel e logo tive a resposta padrão da Índia: estamos cheios, mesmo que as chaves dos quartos estivem quase todas alí. Nunca consegui entender o porque deles fazerem isso e gostaria de descobrir. De qualquer forma, tive que procurar outra hospedagem pela beira da estrada.

Não longe de minha primeira tentativa eu encontrei outra hospedagem, um pouco mais afastada da estrada, o que amenizava o ruído dos motores. Consegui um quarto, jantei, descobri que não havia nada para ser visto na cidade e voltei para o quarto para dormir e começar outro dia amanhã.

Quinta-feira (15 de novembro de 2007)
Sahiwal – Harappa – Lahorinwala (51 km)


Sabia que Harappa não estava longe de mim, apenas não sabia o quanto. Pedalei por cerca de 20 quilômetros e resolvi perguntar para alguém. Coincidentemente eu já estava praticamente na entrada da estrada que me levaria até a vila de Harappa e depois para o museu e sítio arqueológico de Harappa. Foram mais 8 quilômetros por entre ruas estreitas e pequenos vilarejos até chegar ao sítio arqueológico de Harappa.

Parei a bicicleta na guarita de entrada, paguei 200 Rúpias e entrei no museu, onde a fotografia era estritamente proibida. O museu não era muito significante, mas bastante interessante para mim que já havia estudado um pouco da civilização do Vale do Rio Indo, a qual é a base da população do que hoje se conhece como sub-continente.

Em poucas palavras, os registro dessa civilização datam de mais de 5000 anos atrás e mostram umas das mais avançadas civilizações da ápoca. Dessa civillização, da qual as informações ainda são bastante escassas, sabe-se que a cidade de Harappa juntamente com Moenjo Daro formavam a capital dessa civilização. Em ambas escavações formam encontradas uma arquitetura avançada, com sistema de água e esgoto, que mostrava que eles se importavam com a higiêne. Também foram encontrados diversos trabalhos em pedra e selos mostrando uma espécie de culto à natureza, animais (especialmente o búfalo) e à mulher.

Depois de meu passeio pelo museu eu segui para o sítio arqueológico que ocupava uma grande área do local. As escavações não eram as melhores que eu já havia visto, já que o máximo que conseguiram reconstituir foi a base das construções. Obviamente isso era interessante, mas estava longe de ser tão cativante como Machu Picchu ou Angkor Wat, mas havia toda a história de uma civilização atrás de cada uma daqueles blocos. Blocos que até pouco tempo estavam sendo roubados para a construção de casas e até mesmo da ferrovia que pessa perto dalí.

Após a visita ao sítio arqueológico eu voltei para a minha bicicleta e fui embora. Diversas pessoas tentaram me ajudar em relação ao caminho, mas no final das contas apenas me confundiram e eu acabei tomando o mesmo caminho que eu havia usado para chegar ao local. Quando eu voltei à estrada perguntei sobre a localização de Lahorinwala e descobri que estava mais próxima do que eu imaginava.

Poucos quilômetros depois eu já estava no vilarejo, onde perguntei sobre a casa de Mohammed Ashraf e todos sabiam me indicar. Quando cheguei na casa não sabia quem procurar, muito menos o que dizer, já que eu não falo a lingüa local, o urdu. Logo M. Ashraf apareceu e me convidou para entrar, já sentando na cama em que eu dormiria nesta noite. Por algum tempo eu fiquei sozinho, mas aos poucos chegaram mais pessoas até um ponto em que o quarto estava repleto de pessoas, quase todas olhando para a minha cara e tentando se comunicar comigo de alguma forma.

Até certo ponto isso foi bastante interessante, mas quando o relógio já marcava 11 horas da noite e todos ainda estavam alí e eu já com sono, percebi que teria que fazer alguma coisa. Fui direto e disse que queria dormir, não tinha o porque de usar um caminho mais longo para dizer isso e quase todos foram embora na mesma hora. Quase todos. Alguns sujeitos ficaram por alí ainda e só me deixaram dormir quando já era quase meia-noite. (tadinho.. porque será que no pak eles tem mania disso? dormem muito tarde, acordam também... nós somos a única diversão deles hehehehe)

Sexta-feira (16 de novembro de 2007)
Lohorinwala – Multan (132 km)

Acordei cedo, hoje não poderia perder muito tempo caso quisesse pedalar uma longa distância. Arrumei tudo rapidamente e logo já estava pronto para a estrada, mas esperei o café da manhã e depois esperei todos da casa virem se despedir de mim, eu tive que esperar os que chegariam na casa para se despedir de mim. Quando já era 9:30 da manhã e eu via que já teria problemas para chegar em Multan durante o dia e decidi ir embora e não esperar mais ninguém.

A manhã estava fria e com uma névoa que não me deixava ver mais do que 10 metrso à minha frente. Precisava contar com minha audição agora. Por algum tempo foram meus ouvidos que me guiaram, mas conforme o sol se levantava, a neblina também ia embora e a temperatura se elevava.

Durante toda a manhã eu não me sentia disposto à pedalar e já previa que eu não conseguiria chegar em Multan hoje, tendo que parar no meio do caminho para continuar a viagem amanhã. Assim, parei algumas vezes para comer e beber e por fim cheguei em uma cidade chamada Khanewal, a qual ficava a apenas 40 quilômetros de Multan. Sabia que qualquer hotel da cidade seria uma porcaria e a melhor opção seria acampar.

Até entrei num hotel para ver as condições e percebi que não eram nada boas. Assim, decidi acampar num gramado de algum posto de gasolina pela estrada. Quando eu encontrei um posto de gasolina razoável, lembrei que eu não tinha comida, não havia nenhuma restaurante por perto e o posto de gasolina não contava nem com água para eu tomar banho de caneca.

O sol estava se pondo e eu percebi que mesmo que eu quisesse eu não conseguiria dormir na barulhenta lateral da estrada. Assim, tomei a decisão de pedalar nem que fosse um pouco durante a noite, mas de chegar em Multan e descansar por um dia na cidade. Subi na bicicleta, coloquei a uma lanterna em minha cabeça e outra na traseira da bicicleta, agora estava pronto para encarar a noite.

Tive luz por mais cerca de 10 quilômetros e depois já era plena noite. Continuei em frente dentro da noite, do frio e da neblina que fazia. Pedalar à noite não é das atividades mais agradáveis de se fazer, ainda mais numa estrada movimentada e num país como o Paquistão. O problema que surgia era a fome, pois eu não tinha comida e a última refeição que havia feito havia sido no café da manhã.

Agora já estava cansado, com fome, com frio e no escuro, mas de uma forma incrível, completamente calmo e tranqüilo, tão tranqüilo que até parei no acostamento 10 quilômetros antes de Multan para comer algumas bolachas que eu lembrei que tinha. Comi traqüilamente as bolachas e depois abri uma folha de papel para descobrir onde eu poderia ir em Multan e onde encontrar um hotel.

No que eu procurava, um sujeito se aproximou de mim para perguntar se estava tudo bem e se eu precisava de ajuda. Disse que estava tudo bem e que eu não precisava de nada a não ser a indicação de um hotel razoável na cidade. O sujeito disse que não sabia me indicar, mas disse que morava perto dalí e que eu poderia dormir na casa dele se eu quisesse. Ele estava de carro com sua família. Achei que não teria problemas e aceitei o convite.

Segui o carro por uma curta distância e cheguei até o vilarejo onde ele morava. No entanto, ele não era um simples morador do local, mas ele era o dono de toda a vila. Sua casa, uma espécie de mansão, ficava no centro dessa aldeia e ele tinha alguns funcionários que trabalhavam para ele, o que é raro por aqui. Logo ao chegar alí ele me deu um quarto, me mostrou o banheiro e disse que em poucos minutos o jantar estaria pronto.

Logo o jantar estava na mesa e eu tive a oportunidade de comer algo que não era bem paquistanês, uma pizza e queijo. Comi muito, como fazia tempo que eu não comia e depois fui para o quarto para uma merecida noite de sono.

Sábado (17 de novembro de 2007)
Multan


Como era sábado toda a família estava na casa, o pai, a mãe e os 3 filhos. Tomamos café da manhã juntos e depois eles foram me mostrar a vila deles, do galinheiro no fundo da casa até a fábrica de blocos e os grande terrenos para o plantio de cana-de-açúcar. Quando eu já havia visto tudo disse que iria até a cidade (Multan) para fazer algumas coisas e ver alguns dos templos da cidade.

Apesar de toda a hospitalidade da família eu não sei dizer até que ponto eles estava felizes em me receber alí. Eu sentia que eles estavam fazendo uma obrigação de me receber na casa deles, especialmente pela mãe da família que era falsa e dissimulava suas atitudes a todo o momento tentando parecer simpática. O pai da da família desde que eu havia dito que não era muçulmano já não fazia questão alguma de conversar comigo. Assim, passar o dia em Multan seria uma ótima saída para hoje.

A idéia do passeio em Multan não foi muito longe. Com alguns argumentos sem pé nem cabeça a família resolveu me levar para conhecer Multan. O passeio programado pela família não me mostrou muito da cidade, com exceção do parque, de um mausoléu e dos lugares que eles queriam ir. Após o passeio voltamos para a casa da família e teve início o momento mais emocionante do dia.

Um dos filhos da família me perguntou o que eu levava para a minha proteção. Mostrei para ele minha perigosíssima faca de menos de 10 centímetros e disse que acreditava em Deus (apesar de não ser fanático por nenhuma religião). Pensei que como bons muçulmanos, que parecem fazer tudo para Allah, eles iriam concordar. Estava enganado. Eles disseram que eu tinha que me proteger melhor, pois estava passando por longares perigosos, e começaram a mostrar a coleção de armas que eles tinham.

Começaram com uma simples espingarda de chumbo, com a qual eles brincavam dentro da casa para o meu espanto. Depois passaram para algumas carabinas e chegaram a uma escopeta e um cinto de cartuchos digno de Silvester Stallone. Passei a notar o quanto os filhos da família eram obcecados em armas. Mesmo após o show das armas eles chegaram com fotos dos melhores momentos da família. Os garotos ainda bebês, a primeira bicicleta, a primeira arma e a primeira experiência com uma metralhadora automática. (eita...)

Depois de tudo isso, eu apenas resolvi ficar sozinho um pouco e arrumar todas minhas coisas para deixar a cidade na manhã de amanhã.

Domingo (18 de novembro de 2007)
Multan – Bahawalpur (103 km)


Pela manhã eu já tinha tudo pronto para deixar a cidade. Havia arrumado minhas malas, me alongado e até passado o protetor solar, mas descobri que seria uma grande falta de educação ir embora sem tomar um café da manhã com a família. Não me sentia muito bem em relação ao estômago, mas mesmo assim sabia que teria que comer para poder conseguir pedalar uma distância de cerca de 100 quilômetros.

Após o refeição eu me despedi de todos e segui em frente, sabendo que teria muito que pedalar hoje. No entanto, antes de começar a pedalar para valer eu tive que procurar um banheiro na estrada. As estradas por aqui nem sempre possibilitam a improvisação de um banheiro devido ao grande número de pessoas que existe por toda a parte, assim tive que parar num posto de gasolina e pedir para usar o banheiro.

Depois de me aliviar emergencialmente eu sabia que estava pronto para pedalar. Com o ar parado e diversos caminhões me ajudando com o movimento de ar que geravam eu tive um empurrão extra hoje, conseguindo desenvolver uma velocidade média acima do comum. Quase não parei pelo caminho e mesmo saindo mais tarde do que eu esperava de Multan, eu consegui chegar cedo em Bahawalpur, onde logo encontrei um lugar barato para passar a noite e depois saí para comer uma boa refeição, para curar meu estômago e encerrar esta semana de boas pedaladas e algumas surpresas.


=) amooooooo
mas parece que essa parte foi meio dark! Dá pra sentir a desaminada dele.

Inicio do Ramadã- Fotos

Saiu no site da Globo:
Alcorão 'gigante' comemora início do Ramadã na Indonésia

Feito por dois estudantes, livro sagrado pesa 300 quilos.
Mês sagrado para o Islã é marcado por jejum e abstinência



Indonésio lê uma edição gigante do Alcorão, o livro sagrado muçulmano em exibição num hotel em Jacarta nesta sexta-feira (21), dia que marca o início do mês sagrado do Ramadã; feito por dois estudantes, o livro tem 2m x 1,5m e pesa 300 quilos




Mulheres muçulmanas fazem oração em mesquita em Jacarta, na Indonésia, no dia que marca o início do Ramadã; durante o mês sagrado, os muçulmanos não podem comer ou beber e devem manter abstinência sexual entre o amanhacer e o anoitecer.

Thursday, 20 August 2009

Diário de Viagem - Semana 2

Por isso que eu amo o Pak!!!!!!!

Essa série está tudo de bom, que nem pude esperar pra postar a segunda parte.
Eu tinha colocado o link do site, mas deu erro em tudo aqui.. aff, no último post eu coloco oks?

Diário de Viagem - Segunda Parte




Segunda-feira (5 de novembro de 2007)
Gilgit – Karimabad (3 horas)


A noite havia sido fria. Fria como havia tempo que eu não via. Apesar do frio, os dias estavam espetaculares neste começo de outono, quando o clima ainda está bastante seco e o céu completamente azul. Dei uma volta pela cidade logo pela manhã, em busca de do centro de informação e de descobrir o preço da passagem aérea de volta, já que eu não estava nem um pouco interessado em tomar aquele ônibus mais uma vez.

O centro de informação parecia que não iria abrir tão cedo nesta segunda-feira, a companhia aérea cobrava uma valor mais caro do que eu esperava e a úncia coisa boa desta minha caminhada foi que eu encontrei a roupa paquistanesa que eu queria numa loja de roupas usadas e o melhor, por uma camisa e calça que eu queria, paguei apenas cerca de 7 Reais.

Depois disso eu voltei para a minha hospedagem, arrumei minhas coisas e parti para o ponto de ônibus, para tomar um veículo rumo à turística cidade de Karimabad, localizada no coração do Vale do Hunza (a melhor tradução que eu encontrei para Hunza Valley). A van comportava 18 pessoas e não sairia da estação enquanto não estivesse completa. Esperei cerca de 30 minutos até que o veículo estivesse lotado e então, espremido num dos bancos do veículo, segui para o norte.

A viagem foi muito melhor que a de ontem. Desta vez a estrada estava em bom estado – ela só não estava no trecho anterior porque ela foi devastada pelo terremoto de 2004, que também matou centenas de pessoas – e a viagem foi mais agradável, especialmente pelo fato de ter durado apenas 3 horas. No início da tarde eu já estava em Karimabad, numa hospedagem simples, barata e acolhedora, onde encontrei mais alguns viajantes.

Alí eu via a beleza da região em sua melhor forma. Algumas das montanhas mais altas do mundo, picos nevados, vales e geleiras, além de uma gente altamente hospitaleira e simpática, as quais levam a vida de uma forma serena e pacata, sendo muçulmanos, mas sem as paranóias que o islamismo por vezes cultiva. Senti-me em casa logo nos primeiros instantes no local.

Ao final do dia, após um pôr-do-sol de tirar o fôlego, todos os hóspedes do hotel jantaram juntos e conversaram durante horas, até o sono chegar.

Terça-feira (6 de novembro de 2007)
Karimabad e arredores

Acordei cedo, junto com o sol na realidade. Queria ver o sol dar início ao dia iluminando primeiro o topo das montanhas que cercavam o vale. Relutando um pouco devido ao frio, eu coloquei diversas camadas de roupa e subi até o terraço da casa onde estava. O frio estava forte e as pequenas poças d’água pelo chão estavam congeladas. Apesar disso, a vista compensou o esforço: um céu sem nuvens e os raios de sol, quase que visíveis, chegavam apenas nos altos picos das montanhas com seus 8 e 7 mil metros.

Na medida que o sol iluminava de dourado cada um desses picos a neve derretia e pequenas núvens se formavam ao redor dos cumes. Fora eu e o o Ji (o dono da hospedagem, que sempre falava “ji” no final de cada frase, assim passei a chamá-lo de Ji), todos na hospedagem estavam dormindo, mas aos poucos começaram a acordar, na medida que o sol chegava e esquentava o ambiente.

Tomei um simples café da manhã e fui para o Baltiti Forte, como é conhecido este forte de mais de 800 anos que fica no alto de uma montanha, com picos de 7 mil metros ao seus fundo. Ao caminhar pelas ruas da cidade, passei pelo campo de polo, já desativado, pois não há mais cavalos na cidade, cruzei com alguns yaks (espécie de búfalos presente nas regiões mais altas) e cheguei ao forte.

Não havia quase ninguém na cidade e ninguém no forte, que ainda estava fechado e já eram 9 da manhã. A vida nas montanhas era mesmo diferente. Encontrei um guarda e ele disse que o forte logo abriria as suas portas. Enquanto esperava, observei algumas família começarem o seu dia. A população desta parte do país não carrega a fisionomia do sul asiático, mas sim do centro deste continente, de países que um dia já foram parte da URSS, como Kazaquistão, Tajiquistão e Usbequistão (os vizinhos mais próximos desta região).

Mais que a diferente fisionomia, o comportamento das pessoas também é bastante diferente. Uma grande hospitalidade e uma enorme simpatia faz parte dessas pessoas. Depois de esquecer do tempo vendo a vida daquelas pessoas, o guarda do forte veio me avisar que o local já havia aberto suas portas e que eu poderia entrar.

No valor do ticket de entrada, que não era barato para o Paquistão, estava incluso um guia e boa parte daquele dinheiro iria para ajudar na restauração do local. Logo apareceu o guia e me mostrou todo o local, que para a residência de uma “família real” não era assim tão grande e mais rústico que o normal. O prédio como um todo era marcado por linhas e formas tibetanas, já que na época que foi construído a região estava mais influenciado por esse povo, incusive tendo o budismo como religião.

No subsolo do prédio de 3 andares, estava um pequeno calabouço para os desertores, que ficavam detidos alí por pouco tempo antes de serem tranferidos para o que é o hoje a fronteira entre China e Paquistão, onde eram apenas largados por lá. Alguns morriam, outros ficavam por lá e outros ainda conseguiam voltar, depois de anos, para o Vale do Hunza.

No andar intermediário, ficava a cozinha, ainda negra pela fumaça, com panelas de pedra e algumas de metal – trazidas da China –, também havia o armazém de frutas secas, que ficavam estocadas para o inverno. Somente no 3º andar havia outras influências que não tibetanas, no caso especialmente da Kashemira. Neste andar estavam os cômodos da família real, um para o verão e outro para o inverno, este com mais tapetes e cobertores, além da sala de instrumentos musicais, onde ocorriam as celebrações. Por fim, havia o terraço, com vista para o vale e para as montanhas, com uma decoração sem muitos detalhes.

Após a visita ao forte, eu já estava próximo das montanhas e de uma gelereira, resolvi então caminhar até lá, apesar de saber que não seria uma caminhada fácil. Comecei cruzando o vale e já subindo uma ingreme elevação repleta de pedras e areia o que foi a primeira dificuldade para os meus tênis de sola completamente lisa. Depois tive que cruzar um pequeno rio caminhando sobre pedras soltas. Até aí tudo bem, mas depois havia pedras gigantes em meu caminho e passagens realmente difícies. Ao chegar na metade, tive que admitir que não seria mais possível, assim voltei para o pequeno vilarejo, já com algumas bolhas nos pés e cortes nas mãos.

No vale eu almocei e depois fui até o Rio Hunza, justamente na base do vale. Além do fato de estar na base do vale, alí eu podia ver algumas formações rochosas curiosas e pontes frágeis sobre o rio. Após o passeio eu tinha que voltar e não queria subir caminhando até o vilarejo, assim eu usei a técnica que as pessoas nativas usam: corri atrás de uma van, saltei e agarrei num suporte metálico que há na traseira do veículo. Agarrado alí eu subi a montanha e quando era hora de descer eu apenas saltei do veículo e caminhei por mais alguns metros até minha hospedagem, para então ver o sol se pôr, jantar e me preparar para mais uma noite fria.

Quarta-feiram (7 de novembro de 2007)
Karimabad – Passu – Gilgit


Acordei com uma dúvida: voltaria para Gilgit para depois seguir para Islamabad ou seguiria mais ao norte, perto da fronteira com a China, na bela cidade de Passu. Todos os que estava na hospedagem haviam ido embora e eu ainda tinha essa dúvida em minha cabeça. Fui para cidade para comprar um mapa que eu queria, mas descobri que o o comércio abriria suas portas somente depois das 11 da manhã, como de costume.

Assim, resolvi sair da cidade sem meu mapa mesmo, agora com um destino certo, mais ao norte. Pulei então em outro carro, agarrei na barra de ferro e segui até a próxima cidade, 5 quilômetros dalí, Aliabad. Em Aliabad ainda pensava se valeria mesmo a pena seguir para Passu, mas resolvi não pensar muito e apenas entrar na van lotada de gente e segui até lá.

O motorista estava correndo bem e a viagem foi mais rápida do que eu esperava, os problemas, entretanto, começaram quando eu cheguei ao local. A aldeia parecia uma cidade fantasma. Não havia ninguém por alí, havia placas de hoteis, mas todos eles estavam fechados, assim como as 5 vendas do vilarejo. Bati na porta dos hoteis e ninguém apareceu, busquei entrar alguém pelas ruas e nada. Depois de algum tempo encontrei um bando de crianças jogando cricket, mas infelizmente nenhuma delas falava inglês.

Não sabia mais o que fazer. Um sujeito então parou seu carro na beira da estrada, perto da onde eu estava e eu fui falar com ele. Não tive boas notícias, parecia que hoje era algum dia especial no local (ou fora do local) e diversos do moradores dalí haviam ido para outra cidade. Talvez eles voltassem pela noite, mas ainda era incerto. O pior mesmo era que não havia mais nenhum tipo de transporte para eu voltar agora. Sem comida, sem local para ficar, eu sabia que estava com problemas e quando o sol fosse embora eu poderia congelar alí.

Voltei para a estrada e no mesmo instante eu vi um carro passando, estendi a mão e pedi uma carona. No mesmo instante o carro parou e me convidou para entrar. Os 2 sujeitos dos bancos dianteiros pareciam simpáticos, no entanto não falavam uma palavra em inglês e eu quase nada de urdu. A comunicação estava prózima de zero, mas o suficiente para eu conseguir explicar que eu queria sair dalí. Inicialmente falei de Aliabad, mas eles disseram que estava indo para Gilgit, aonde eu queria chegar. Segui com eles até Gilgit, da onde eu iria tomar um avião para Islamabad amanhã.

Quando cheguei na cidade, por volta das 5:30 da tarde, tinha dúvidas se encontraria o escritório da companhia aérea ainda aberto. Todas instituições fecham antes das 4 por aqui. Corri então para o escritório da PIA (nome da companhia aérea) e como eu já esperava eles estavam fechados. Não desisti, nunca desisto tão cedo. Bati na porta e ninguém. Bati na porta novamente e apareceu alguém. Falei com o senhor e ele disse para eu voltar amanhã, pois hoje eles já estavam fechados. Tentei falar com ele e ele, que já estava sem paciência, chamou outro funcionário.

Ao falar com este outro funcionário disse que tinha uma reserva e ele abriu a porta para mim. Agora poderia comprar meu ticket sem problemas. O problema foi que ao comprar meu ticket de avião, me sobraram quase 300 Rúpias (menos de 10 Reais) e eu ainda tinha que dormir e comer com esse dinheiro. Voltei então para a hospedagem onde eu estava ficando e pedi o quarto mais barato, 150 Rúpias, e uma prato de comida barato e que me sustentasse, mais 100 Rúpias.

Tinha ainda mais 40 Rúpias, o que não daria para muita coisa, mas pelo manos eu chegaria até Islamabad, onde poderia encontrar um caixa eletrônico para sacar mais dinheiro. Agora, não me restava muito a fazer, senão dormir e esperar.

Quinta-feira (8 de novembro de 2007)
Gilgit – Islamabad


Acordei cedo, tomei um banho quente, não tomei um café da manhã hoje, pois não tinha dinheiro e apenas esperei chegar a hora de seguir para o aeroporto. Paguei o hotel e eles me ajudaram dando um desconto de 100 Rúpias, na minha conta, dizendo que eu iria precisar desse dinehiro quando eu chegasse em Islamabad. Aceitei o desconto e fui embora para o aeroporto.

Caminhei até o aeroporto que tinha sua única pista quase que no centro da cidade. No entanto, havia chegado cedo demais e tive que esperar na rua, já que eles não tem sala de espera. Quando chegou o momento de entrar fui revistado algumas vezes e depois cheguei a uma pequena sala destinada apenas aos passageiros. Esperei por mais uma hora até abrirem a porta para os passageiros caminharem até a pista e entrarem no único avião do local.

Eu tinha 2 motivos para estar tomando uma avião. O primeiro era a vista que eu ganharia do avião, que poderia mostrar diversas das altas montanhas da região, incluindo o Nanga Parbat, com seus 8.125 metros, o segundo motivo era que eu não queria realizar mais uma vez a viagem insalubre de 17 horas entre Gilgit e Islamabad. Por isso, pedi um assento na janela do lado esquerdo do avião ao embarcar. Fui atentido, podem me deram o pior assento, justo debaixo da asa.

Ao avião decolou e na medida do possível eu consegui ter uma boa visão das montanhas mais altas do mundo. A incrível paisagem permaneceu durante toda a curta viagem de 55 minutos. Aterrissar no aeroporto de Islamabad, o qual é usado para vôos domesticos, internacionais e militares, foi tranqüilo, o problema foi que os caixa-eletrônicos do aeroporto estava quebrados e eu continuava sem dinheiro.

Resolvi pedir uma carona para Islamabad, que estava a alguns quilômetros dalí. Ninguém me deu uma carona, mas um sujeito me deu 100 Rúpias. Agora já tinha 200 Rúpias de esmola e poderia tomar um táxi. Pedi para o táxi seguir para um banco, ele conhecia bem a cidade, mas o que eu não sabia é que quase nenhum banco era compatível ao sistema internacional que eu uso para sacar dinheiro, Cirrus. (eu tb usava esse.. mto ruim de achar, somente o Banco Samba aceita, hauhauahua conhecidencia?)

Depois de uma longa jornada e diversos caixas-eletrônicos, cheguei ao CitiBank, que pelo visto era o único que funcionava. Saquei o dinheiro e segui para o departamento de vistos e passaportes, para perguntar como poderia fazer para extender meu visto caso necessário. Descobri que poderia fazer alí, porém eles haviam fechado as portas fazia mais de 2 horas e amanhã não abriria devido a um feriado especial. Não poderia ser pior, agora seria melhor não perder tempo para começar a pedalar.

Encontrei também a Embaixada do Brasil, onde seria bom ter uma conversa, mas ela também já estava fechada em plena tarde de quinta-feira e, claro, também não abriria amanhã devido ao feriado que havia sido declarado derrepente. Não poderia fazer muita coisa a não ser conhecer um pouco da cidade então. Entretanto, Islamabad não conta com muitas atrações, sendo mais uma cidade política que turística.

Segui para um dos poucos pontos de interessa da cidade, a Mesquita Faisad, a qual foi considerada a maior mesquita do mundo durante a década de 80. Hoje ela não é mais a maior do mundo, mas dizem que segue sendo a maior da Ásia, o que já é bastante. Eu cheguei ao local na hora do pôr-do-sol, o que deixou a beleza da mesquita ainda maior. Com o Sol se pondo de um lado e uma cadeia de montanhas do outro, eu estava no local certo na hora certa.

Dalí segui para a cidade, atrás de algo para comer, pois já era noite e eu ainda estava com o estômago vazio. Demorei para encontrar um restaurante, mas valeu a pena. Dalí tomei um pequeno táxi até a hospedagem onde eu estava e me preparei para encerar mais um dia e planejar minha ida para Lahore amanhã.

Sexta-feira (9 de novembro de 2007)
Islamabad – Lahore


Acordei sozinho no quarto para 4 pessoas e depois de uma banho quase frio, arrumei minha bagagem para seguir para Lahore. Fui para a rua e tomei um táxi para o terminal de ônibus. Alí descobri que não era uma boa idéia tomar um daqueles ônibus, que além de demorar não eram lá muito confortáveis. Segui então para outra companhia de ônibus, um pouco mais longe e pelo caminho, vi que havia uma confusão na estrada, o que estava obrigando o taxista a contornar em plena rodovia e seguir pela contra-mão.

Depois de algumas manobras arriscadas eu descobrir o motivo da confusão, haviam acabado de matar 2 sujeitos na pista e as ambulâncias já estava alí e a polícia a caminho. Num determinado ponto, não era mais possível mais seguir no táxi, pois todas as pistas haviam sido fechadas, agora eu tinha que caminhar até a companhia de ônibus.

Essa companhia apesar de organizada tinha uma demanda muito grande que resultava em enormes filas para comprar as passagens. Tive apenas tempo de comprar a minha passagem e entrar no ônibus, que era mesmo confortável, mais até do que eu esperava, e seguir tranqüilamente para Lahore. A viagem durou exatamente o tempo previsto e por volta das 3 da tarde eu já estava num ponto de Lahore que eu nem fazia idéia. Tomei então um rickshaw para a hospedagem onde eu estava e pelo caminho descobri que o feriado havia chegado em Lahore também, pelo menos nas instituições governamentais.

Ao chegar na hospedagem descobri que não havia cama para mim e acabei encontrando quase todas as pessoas que estavam alí durante a semana passada. Parecia que ninguém queria ir embora dalí. Fiquei conversando com todos e com as novas caras também e até entrando numa discussão, pelo simples fato de eu dizer que não gosto da Índia para os amantes do país.

O dia acabou comigo dormindo no terraço e sabendo que ainda teria amanhã pela frente, mas que seria basicamente um dia de trabalho.

Sábado (10 de novembro de 2007)
Lahore


Apesar da hospedagem oferecer algumas falicidades para seus hóspedes, como água tratada e máquina de lavar roupa, tudo gratuitamente, esses benefícios era altamente disputados. Ontem eu não havia conseguido lavar a minha roupa e hoje estava brigando para usar a máquina e por algum lugar no varal. Após lavar meu saco de roupa suja eu resolvi inciar o processo de atualização do meu site, que só não pode ser realizado pois a energia elétrica da cidade acabou e não tinha previsão de voltar.

A energia voltou pela tarde e eu consegui fazer um pouco do que precisava, pelo menos até a noite chegar e todos os hóspedes decidirem fazer um churrasco e até comprar cervejas. Malik, o dono da hospedagem, também entrou na festa e até convidou alguns músicos para participar, o que musicou o churrasco realizado no terraço do prédio localizado no centro de Lahore.

Domingo (11 de novembro de 2007)
Lahore


Apesar dos meus planos de iniciar minhas pedaladas ainda hoje eu percebi que se quisesse fazer as atualizações que queria isso não seria possível. Assim, desisti de começar a pedalar hoje e passei quase todo o dia na frente do computador para finalizar o que eu tinha que fazer. Quase todos os turistas foram embora e de cheia, a hospedagem ficou quase vazia no final desta semana paquistanesa.



Amooooooooooooooooooooooooooooooooooo
Essa saudade deixa meu coração apertado!
Deu vontade de conhecer o Pak??

Diário de Viagem- Semana 1

Muito interessante são 4 semanas de diário de viagem, divirtam-se!

Primeira Parte
Terça-feira (30 de outubro de 2007)
Amritsar – Lahore (61 km)

Já sabia que hoje que o meu último de dia de Índia e eu não tinha como negar a felicidade que isso me trazia. Ao mesmo tempo também não podia esconder a certa apreensão que eu tinha dentro de mim por estar entrando no Paquistão, uma terra que carrega tantas histórias e lendas em seu lado de fora. Se todas elas fossem verdade eu já estaria morto antes mesmo de chegar em minha primeira cidade no país, mas precisava saber o que era verdade neste mundo feito de mentiras.

E estava disposto a pagar caro por isso. Pedalei então em direção à fronteira Índia/ Paquistão.

Despedi-me do Templo Dourado e do povo sikh. Depedi-me das hordas de turístas. Despedi-me dos hippies buscadores da felicidade. E finalmente subi na bicicleta. Antes de deixar a cidade, no entanto, eu me perdi pela última vez na Índia e então encontrei o caminho. Pouco mais de uma hora depois eu já estava na fronteira, pronto para iniciar o processo de carimbos, formulários e horas de espera.

O organização do lado indiano não conseguia ser boa mesmo, assim como a educação dos funcionários. Depois de mais de uma hora de espera, eu consegui ganhar o cartão verde para cruzar a fronteira, mas antes fui trocar minhas rúpias indianas que não valiam nada no lado de lá. Depois da troca, tive ainda que assinar mais alguns papeis e enfim cruzei o portão.

Pensei que o lado paquistanês seria pior. Apenas pensei. Com toda a educação e um ótimo inglês os policiais paquistaneses me indiacaram aonde ir. Alí um sujeito me indicou o que fazer e onde deixar a bicicleta. Preenchi o formulário e depois de ter meu passaporte carimbado dentro do centro de imigração que poderia ser de qualquer país desenvolvido, tamanha organização e limpeza, fui passar pela revista de bagagem, mas os simpáticos policiais apenas perguntaram o que eu tinha e me deixaram passar sem abrir nenhuma de minhas malas.

Pronto, estava oficialmente no Paquistão e havia sido mais fácil do que eu imaginava. Pedalei poucos metros para dentro do país e já via uma cultura diferente, um idioma diferente, trajes diferentes e rostos diferentes. Era uma diferença enorme, que não chegavam ao outro lado devido à pesada fronteira que não deixa o caminho livre entre os 2 países.

A estrada continuava boa, assim como era na Índia, masuase não havia carros na pista e os poucos que haviam quase não buzinavam. Não eram excelentes motoristas, mas pelo menos não faziam questão de mostrar suas buzinas. Isso foi um alívio para mim. A poluição continuava pesada e fiz uma breve parada perto de um posto de gasolina ao lado da pista e percebi que diversas pessoas tinham armas, que não eram, mas sim metraladoras e escopetas.

Essa imagem, numa foto tendenciosa – como as que são colocadas nas revistas –, poderia indicar o início de uma guerra, mas a realidade é que até mesmo aquelas pessoas que levavam armas eram simpáticas e educadas. Era uma cena peculiar e, de certa forma, estranha também. De toda forma, não fiquei aí para ver como eles usavam suas armas e segui em frente, na direção de Lahore, a 2ª maior cidade do país.

Na medida em que eu me aproximava de Lahore o trânsito ficava cada vez mais caótico, mas mesmo assim, sem buzinas. Ao entrar na cidade, eu sabia que seria bom ligar para o número de telefone que haviam me dado, mas para isso seria bom conseguir um telefone. Como eu já previa aqui não há telefones públicos e a melhor saída seria comprar um novo chip telefônico para mim e já ter um número paquistanês também.

Estava perdido na cidade e não tinha a menor idéia de que direção eu tinha que tomar, assim resolvi apenas procurar uma loja de celular. Em meio à confusão das ruas foi um pouco difícil me deslocar de um lugar para o outro, mas num tempo menor do que eu previa eu já tinha meu número de celular do Paquistão, por uma quantia equivalente a 6 Reais. Com o telefone funcionando eu resolvi ligar para o número que eu tinha e – sem me surpreender – descobri que o número estava desligado.

Era hora de mudar os planos. Seria bom eu ir para algum hotel da cidade. Segui então para um hotel que é uma instituição na cidade e creio que mais de 90% dos turistas estrangeiros ficam nele quando em Lahore. Vi o nome da rua e fui perguntando pelo caminho. Ao contrário da Índia, as pessoas aqui me informavam com todo o carinho e pareciam realmente preocupadas comigo. Fiquei feliz com isso, mesmo quando eu não entendi nada da informação que eles estavam me dando em urdu (idioma local).

Em pouco tempo e depois de poucas ruas eu cheguei ao local, que à primeira vista, não parecia nada agradável. Localizado numa rua pequena e suja, com apenas uma pequena porta que dizia o nome do hotel: Regale Internet Inn. Depois da porta havia um jogo de escadas que já levava para o 2º andar do prédio. Assim deixei a bicicleta no lado de fora e subi para conferir o lugar.

Os quartos estavam cheios e só havia algumas camas no dormitório. Isso não era um probelma para mim, o mais difícil mesmo foi levar a bicicleta e os alforjes para cima. Depois foi tudo tranqüilo. Conheci o dono do local, Malik, e fui aos poucos conhecendo todos os hóspedes e até mesmo os moradores do local, gente que parece que chegou para ficar. Quando arrumava minhas coisas no quarto para 6 pessoas conheci um casal canadense que estava por alí e depois 3 viajantes da Islândia, o que é realmente difícil de ver, já que este país tem apenas 300.000 habitantes.

Com os islandeses eu saí para comer. Eles eram muito simpáticos e naquele momento já estavam há mais de uma mês no Paquistão, onde ficaram em Karachi, inclusive durante o incidente da bomba. Eles não estavam apenas viajando, mas sim a procura de um outro lugar para viver, já que a Islândia parecia não agradá-los. Tudo indicava que eles não sairiam mais do Paquistão e agora eles estavam apenas escolhendo um lugar para montar uma casa.

Depois de tanto tempo de Índia, o Paqusitão parecia um milagre em meu caminho. Limpo (comparando com a Índia), sem buzinas, com pessoas educadas e até mesmo carne de vaca, era tudo o que eu queria. Podia até mesmo comer sem me preocupar tanto como na Índia, onde não me lembro de ter comido algum prato sem uma cabelo, mosquito ou algo que eu não consegui identificar. Parecia que meu caminho estava mudando e para melhor.

Quarta-feira (31 de outubro de 2007)
Lahore


Lahore pedia alguns dias para ser conhecida. Aparentemente não havia muita coisa para ser vista nesta cidade de 12 milhões de habitantes, mas fazia tempo que eu não me sentia tão bem como na hospedagem onde eu estava. No pequeno hotel onde eu estava já conhecia quase todos e me sentia em casa, o que eu poderia fazer era aproveitar um pouco dessa boa sensação que eu não conseguia sentir na Índia.

Hoje eu tirei o dia para ver alguns locais da cidade, o que eu queria fazer logo pela manhã, mas no começo do dia de hoje eu descobri que o comércio aqui abre apenas por volta das 10 horas da noite, o que fez que eu demorasse para encontrar um mercado aberto para comprar meu café da manhã. Somente depois disso é que eu saí, com rumo à cidade velha, aonde está localizado o Forte de Lahore.

Ao chegar no local tive uma surpresa, ele estava fechado. Não fazia sentido, ele não fechava para almoço, tampouco para siesta, mas os policiais não estavam deixando ninguém entrar. Perguntei o que estava acontecendo e eles disseram que algum político americano estava alí dentro e enquanto ele estivesse alí, ninguém poderia entrar. Como não tinha escolha, fui para o parque da cidade, logo à frente do forte, para esperar o tempo passar.

Alí vi muita gente e muitas dessas pessoas vinha conversar comigo. Nessas conversas eu fui descobrindo que o paquistanês, ao contrário do que a mídia diz, é um sujieto muito bom. Eles acreditam que a Índia é uma país bom e não tem nada contra os Estados Unidos, o que me chamou muito a atenção. Já os indianos nunca falam nada de bom do Paquistão e os americanos vêem o país como o novo celeiro de terroristas do mundo. Era interessante descobrir um pouco mais do Paquistão.

As conversas foram interessantes e me senti bem com os paqusitaneses, com quem fiquei conversando até os portões do Forte se abrirem somente após as 3 da tarde, quando os americanos resolveram deixar o local. O forte é um resquício da dinastia Mughal, a mesma que dominou a Índia durante séculos e levantou as construções mais famosas do país, entre elas o Taj Mahal. A idade precisa do forte não é sabida, mas o que se sabe é que sua forma atual foi dada pelo imperador Akbar, o qual transformou Lahore em sua capital em 1566.

Seguindo as mesmas linhas das construções muçulmanas encontradas no norte indiano, o Forte de Lahore, conta com diversas divisões, palácios e templos, incluindo até mesmo uma caminho para elefantes, o que era comum naquela época. Igualmente grandioso e mais elaborado que o forte está a Mesquita Badshasi (Badshasi Mosque), que foi finalizada em 1647 por Aurangzeb (filho de Shah Jahan), tornando-se uma das maiores mesquitas do mundo.

Estar alí durante o pôr-do-sol apenas deixou o lugar ainda mais especial. Vi o dia acabar diante daquela imponente mesquista e somente então voltei para a minha hospedagem, encontrando ainda mais gente que havia chegado hoje, especialmente para aproveitar a quinta-feira de Lahore, que trás uma agenda recheada de eventos Sufi – o misticismo muçulmano.

Depois de conversar com tanta gente comecei a perceber que eu não poderia simplesmente deixar o país sem conhecer a região norte do Paquistão, uma região conhecida pelas suas montanhas (as mais altas do mundo), pela hospitalidade das pessoas e por ter o maior números de geleiras (glaciares) do mundo, depois da Antártida. Pedalar seria praticamente impossível, levando em consideração o meu tempo no país, mas um ônibus poderia resolver isso. De qualquer forma, ainda tinha a quinta-feira em Lahore para decidir.

Quinta-feira (1º de novembro de 2007)
Lahore


Pela manhã eu saí com algumas missões a cumprir, entre elas encontrar o correio, uma bicicletaria, comprar uma roupa tradicional, chamada shalwar-kamiz (algo como “calça e camisa”), a qual todos os homens usam e assim eu poderia passar despercebido em algumas regiões do país, com os trajes tradicionais e minha barba de alguns meses.

Encontrar o correio foi fácil, as bicicletarias também, até mesmo as lojas de roupas não foi assim tão difícil, porém não consegui fazer nada. Algumas das coisas que eu queria enviar para o Brasil era proibido aqui no Paquistão, como um simples DVD, eu precisava pegar minha bicicleta e levá-la para a bicicletaria e as roupas que eu encontrei não eram bem aquelas que iriam me fazer passar despercebido, pois tinham tantos detalhes, que eu chamaria mais a atenção usando elas que não usando nada.

Quando eu voltei para a hospedagem já era depois do meio-dia e as pessoas já se preparavam para ir até uma mesquita da cidade para conferir uma série de apresentações de música devocional muçulmana, chamada de qawwali (desse gênero musical o maior expoente é, sem dúvida, Nusrat Fateh Ali Khan, que morreu há uma década mas deixou uma grande obra que ainda pode ser apreciada).

Depois de rodar pela cidade, com mais de 20 turistas, cheguei à mesquita da cidade, onde via de regra havia apenas homens, todos sentados, olhando apenas e, algumas vezes, 1 ou 2 dançado ao som da música que o grupo tocava. Os cantores eram muito bons e a aprensatação que deixava cada banda tocar apenas 1 música durou por mais de 1 hora. Depois das apresentações que eram retribuidas não com palmas, mas sim com uma banho de dinheiro (recolhido durante a performance) sobre os músicos, seguimos para uma sala do local, onde nos serviriam o almoço, que comemos com as mãos.

Após todo o processo, voltamos para a hospedagem, mas no meio do caminho os grupos se separaram e acabaram cada um seguindo um caminho diferente. Quando eu cheguei na hospedagem, fiquei boa parte do tempo conversando com algumas pessoas e buscando organizar algumas atividades que eu tinha que fazer, porém quando eu vi já estava com fome, saindo para comer mais uma vez e depois já me preparando para ir conferir uma outra apresentação de música qawwali, porém desta vez, num estilo mais ritualístico.

Todos nós subimos novamente nos pequenos rickshaws e seguimos até um ponto distante da cidade, numa mesquista diferente que mais parecia uma casa. Porém, mas diferente que a mesquita era o que estava acontecendo dentro dela. Uma multidão se concentrava dentro do local para ver 2 sujeitos tocarem tambores num ritmo frenético, que conduzia as pessoas para um estado de transe. Como se não bastanssem os tambores, todos alí na platéia fumavam hashish quase que sem parar, num ato que faz parte da religião deles.

Mesmo aqueles que não fumavam já estavam entrando em transe também com a repetição da música e a dança de alguns poucos, que me lembrava algo como um terrero de umbanda no Brasil. A atmosfera do local foi apenas quebrada quando um sujeito chegou alí para tocar seu saxofone. Nada contra saxofones, porém naquele momento onde apenas os tambores falavam, algo ao estilo de Kenny G. não parecia se encaixar muito bem no repertório.

O sujeito sofreu com seu saxofone, já que o som de seu instrumento era incompatível com o som dos tambores. Eles foi persistente, mas num determinado momento teve que desistir. A partir daquele instante os tambores passaram a tocar mais alto e os cigarros carregados de hashish voltaram a se tornar apenas fumaça. Entretanto, eu já estava cansado daquilo e resolvi ir embora de volta para a hospedagem e encerrar este dia carregado de misticismo muçulmano.

Sexta-feira (2 de novembro de 2007)
Lahore


Meus planos era de hoje já deixar a cidade, mas no decorrer do dia persebi que isso não seria possível, pelo menos não hoje. Após o café da manhã muita gente foi embora, já que muitos ficam na cidade apenas para conferir as noites de música e rituais antes de seguirem seus rumos. A hospedagem que não tinha mais espaço nos útimos dias e obrigava as pessoas a dormirem no terraço do prédio, agora estava quase vazia.

Despedi-me de todos e voltei para minhas missões de dias atrás. Agora segui para o correio do país e não perdi muito tempo alí. Depois fui até um bicicletaria e alinhei minha roda traseira, que havia se tornado oval após a Índia e, em conseqüencia disso, os raios estavam sempre quebrando. Arrumei a bicicleta também. A única coisa que ainda me faltava, mas que a essa altura eu já havia desistido era um traje paquistanês.

Decidi então almoçar antes de voltar para a hospedagem e durante o meu almoço eu conheci um juíz do tribunal de justiça de Lahore. Fomos conincidentemente colocados na mesma mesa do restaurante e acabamos conversando bastante, antes de encerrarmos nossa refeição e cada um seguir o seu rumo.

Pela tarde na hospedagem, busquei atualizar meus diários e fotos antes de deixar a cidade, o que eu faria amanhã mesmo de qualquer forma. Segui até a noite escrevendo e buscando algumas informações sobre o país e coisas do gênero, até que fui interrompido pela chegada de alguns músicos que iriam tocar (qawwali) no terraço do prédio. Segui então para o terraço e assisti à aprensatação dos músicos, que fizeram tudo de forma gratuita. Ao final do show eu voltei para o computador, mas acabei dormindo na frente da tela, tão cansado que eu estava.

Sábado (3 de novembro de 2007)
Lahore – Islamabad – caminho às montanhas do norte


Eu acordei cedo e logo comecei a separar o que eu levaria em minha curta viagem e o que eu deixaria em Lahore, quase tudo. Sabia que se eu ficasse em Lahore, cercado de tanta gente interessante, eu não conseguiria trabalhar e seria melhor eu sair dalí o quanto antes. E meu destino eu já havia decido, o norte do país.

Eu que me sentia em casa na hospedagem onde eu estava, passei a reparar um ponto interessante: o quanto o Paquistão é diferente da Índia. Mesmo estando tão perto há inúmeras diferenças, inclusive em relação aos seus turístas. Aqui ninguém vem em busca de mestre, atrás de resposta ou como marinheiro de primeira viagem, aqui só vem quem sabe viajar e, especialmente, aqueles que não acreditam em tudo o que a imprensa diz, porque os que acreditam tem medo até mesmo de pensar no nome deste país.

Todos os estrangeiros que eu conheci aqui tinham uma história incrível. Diversos viajando de bicicleta, de moto, de paraglider, ou mesmo vindo de países como Afeganistão e Iraque. Não havia como negar que as histórias que eram contadas nesta hospedagem eram as melhores que eu já havia ouvido. Além disso havia uma grande troca de informações entre os viajantes que quase sempre seguiam em direções opostas.

Mesmo atraído pelo ambiente eu deixei a hospedagem hoje, por volta do meio dia, com apenas uma mochila, uma bolsa e minha câmera. Segui para a periferia da cidade, até um terminal de ônibus, da onde eu tomaria um coletivo para Islamabad, a capital do país. Isso foi fácil, um rickshaw me levou até o terminal onde os ônibus saia para a capital do país a cada 20 minutos. O ônibus era muito melhor do que eu poderia esperar: ar condicionado, assentos espaçosos e tudo muito organizado.

Numa estrada perfeita o veículo percorreu quase 300 quilômetros em apenas 4 horas e meia. Parecia que algo estava errado, tudo estava muito perfeito. Quando eu cheguei em Islamabad, com a ajuda de um senhor que eu conhecera no ônibus eu tomei um táxi para a cidade vizinha, Rawapindi, aonde estava o terminal da NATCO (Northern Areas Transport Company), de onde partiam os ônibus para as regiões nórdicas do país.

Eu estava pensando em dormir uma noite em Islamabad, mas resolvi já reguir de uma vez para o norte do país e assim ganhar um dia de viagem. Ao chegar na estação de ônibus já era noite e eu não tinha almoçado e nem mesmo jantado e pelo visto iria seguir assim mesmo. Comprei então a minha passagem de ônibus, cuja saída estava marcada para as 8 da noite, para uma viagem nada fácil que prometia durar de 15 até 18 horas.

Seriam mais de 24 horas dentro de um ônibus e eu já sabia que não seria fácil, mas eu não tinha escolha caso quisesse mesmo chegar ao norte do país. Comprei um pacote de bolacha, uma garrafa de água e subi no ônibus para a longa jornada. A viagem começou bem, e eu não demorei muito para pegar no sono. O problema era que o meu assento quase não se reclinava, não havia muito espaço para as minhas pernas, espacialmente pelo fato de eu ter que levar minhas malas comigo, além do fato do sujeito de meu lado também gostar que de se esparramar.

No meio da noite eu já não aguentava mais ficar alí e numa das paradas do ônibus eu resolvi procurar algum assento vazio para tentar dormir. Sorte ou não, eu encontrei a última fileira de assentos vazia, o que deixaria eu dormir na horizontal alí. A desvantagem era que justamente no final do ônibus era onde o veículo mais trepidava e oscilava. De qualquer forma deitei nos assentos sujos e até me cobri com meu lençol, para ter mais conforto.

Dormir bem alí era uma missão quase impossível. O ônibus pulava tanto que eu constantemente voava dos assentos e algumas vezes até caia fora dele. Fora isso pela estrada havia uma espécie de controle policial rigoroso que me fazia descer do ônibus a todo o momento com meu passaporte para preencher um livro com minhas informações. Mesmo assim a viagem seguiu.

Domingo (4 de novembro de 2007)
À caminho das montanhas do norte – Gilgit


O dia nasceu e eu sabia que eu ainda tinha muito chão pela frente, pois não haviam se passado nem 12 horas ainda. Bastava paciência. Eu não tinha mais sono, mas me sentia cansado. Eu não queria dormir mais, mas não tinha o que fazer e no final das contas sempre acabava dormindo mais uma vez.

O ônibus parou mais uma vez para o café da manhã e naquele momento eu já sentia um pouco da região, incluindo a paisagem montanhosa e frio que fazia. Comi um ovo frito e um chapati, mais uma xícara de chá com leite e depois o ônibus seguiu em frente. Somente por volta das 13 horas, 17 horas depois da partida eu chegava em Gilgit, a maior cidade da região norte do Paquistão. A maior, mas mesmo assim apenas com cerca de 25 mil habitantes.

No momento que eu pisei na cidade meu pai me telefonou, senti que ele estava aflito, mais que o normal. Descobri então o porque: o Paquistão havia declado estado de emergência. Isso nunca é bom, mas eu ainda não sabia o quanto ruim isso era neste caso. De toda a forma, eu estava numa parte do país onde nada chegava, nem mesmo os conflitos políticos. Sabia que poderia ficar por aqui até a poeira baixar também, isto é, se houvesse mesmo poeira para baixar.

Busquei conversar com algumas pessoas sobre a situação política do país e todas já sabiam, mas não estavam se importando, pois sabiam que era apenas mais um jogo político de Musharraf, que é muito bem aceito pela população em geral, especialmente a população rural. O estado de emergência, apesar de deixar o país virtualmente “sem leis” não afetava o dia-a-dia das pessoas, muito menos dos turistas, que, por um ponto de vista, estariam ainda mais protegidos sob a asa deste Estado militar ainda mais fortalecido.

Alguns turistas, os que nem deveriam estar aqui, já estavam arrumando as malas para sair do país, como se todos fossem morrer. Estavam seguindo para a Índia em busca de segurança. Certo ou errados, na minha visão é mais fácil morrer de diarréia na Índia que por algum conflito aqui no Paquistão. De qualquer forma, eles estavam tomando as decisões deles. (huaauahauhaa)

Caminhei um pouco pela cidade e depois de alguns minutos eu decobri que não havia nada para ser visto na cidade, mas também descobri que as pessoas eram muito simpáticas e hospitaleiras nesta região do país, onde as pessoas tem outra fisionomia, mais parecida com a do centro asiático – Tajiquistão, Kazaquistão e outros “quistãos”. Descobri que na cidade eu poderia fazer uma trilha até perto de uma das mais altas e perigosas montanhas do mundo – Nanga Parbat, com seus 8.125 metros – ou assitir à uma emocionante partida de pólo, jogo comum na região.

A trilha seria interessante, mas iria me tomar muito tempo, assim resolvi amanhã mesmo sair da cidade, seguindo mais ao norte até um famoso vale da região, o Hunza Valley. Mas isso já parte da semana que vem.

Para ver fotos de mais paisagens clique aqui:
http://www.nohorizons.net/Countries/Pakistan/Files/Karimabad%20(2).htm

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