Friday, 21 August 2009

Diário de Viagem- Semana 3

Diário de viagem no Paquistão- Terceira Parte


Segunda-feira (12 de novembro de 2007)
Lahore


Apesar de ter traçado meus planos para sair de Lahore ainda hoje, fui – como de costume – pego por alguns imprevistos. Ficar acordado até as 3 da manhã para terminar minhas atualizações ontem, foi um; ter leves problemas digestivos foi o outro. Não me sentia disposto o suficiente para começar a pedalar hoje, já que eu quero inciar a pedalar sem a previsão de parar tão cedo, devido à grande distância que serei obrigado a percorrer em apenas 2 semanas.

Com mais um dia em Lahore eu aproveitei para ver o que eu não havia visto. Caminhei por outras ruas, enviei alguns postais e visitei o Museu de Lahore. Em minha caminhada vi hordas de fotógrafos, cada um equipado com 2 ou 3 câmeras, apenas esperando alguma coisa acontecer na cidade, como advogados brigando com a polícia ou Bhutto provocando tumulto ou atentados.

Fora isso, nada de novo. O clima parecia estar ficando mais tenso na cidade, com a presença de Benazir Bhutto e mensagens de grupos terroristas afirmando que vão matá-la num atentado à bomba em Lahore. A hospedagem que estava cheia de turistas quando eu cheguei, 2 semanas atrás, agora já estava quase vazia e os visitantes continuavam migrando para a Índia. Apesar da leve tensão no país, eu estava decidido à atravessá-lo e era melhor fazer isso o mais breve possível, ou seja, amanhã.

Terça-feira (13 de novembro de 2007)
Lahore – Bulagary (101 km)


Não acordei com o despertador e quando despertei, mais tarde do que esperava, fiz tudo da forma mais rápida possível. Fechar as malas, comer, alongar meus músculos e despedir de todos. O problema foi que mesmo assim, só consegui sair para a rua por volta das 11 da manhã, que era tarde para iniciar um pedalada de 100 quilômetros numa época em que o dia acaba às 5 da tarde.

O melhor que me aconteceu foi que ao me despedir dos funcionários da hospedagem, comentei que iria parar numa cidade chamada Pattoki. O sujeito então disse que alí não havia nem hotel nem nada do gênero, mas ao mesmo tempo disse que morava nas proximidades dessa cidade. O melhor de tudo foi que ele disse que estava voltando para sua vila hoje e que se eu quisesse poderia ficar na casa dele por algumas noites.

Aceitei o convite e fui embora para a estrada. As ruas de Lahore não eram nenhuma maravilha e me deram bastante trabalho até sair do perímetro urbano da cidade. Somente depois de 20 quilômetros foi que a estrada começou a melhorar e se tornar mais possível de ser pedalada. A partir daí eu não parei muito, apesar das diversas pessoas que me cumprimentavam e me chamavam para conversar, tomar um chá, comer um chapati ou apenas sentar e descansar.

Parei apenas um vez no meio na estrada para comer um pouco e depois continuei. Quando cheguei em Pattoki percebi que se eu estivesse disposto a ficar por alí teria problemas mesmo. Uma cidade suja de beira de estrada, sem nenhum tipo de acomodação e lotada de gente. Segui então para a próxima cidade, chamada Habibabad, onde – segundo o mapa que Khadim havia desenhado para mim – eu deveria entrar à esquerda e seguir por alguns vilarejos até a vila de Khadim, Bulagary.

Os dias estavam cada vez mais curtos e hoje não foi diferente, às 4 da tarde o sol, já baixo, começou a se esconder atrás da imensa e espessa núvens de poluição. Às 5 horas da tarde me restava apenas poucos minutos para conseguir ver o que havia à minha frente. Foi exatamente nesta hora que eu entrei no estreito caminho para a vila de Khadim. Tive a sorte de poder contar com a ajuda de algumas pessoas que seguiram para lá de carroça e me guiaram até a vila.

Quando cheguei em Bulagary já era noite e eu não tinha a mínima idéia de onde eu deveria ir dentro daquelas ruas de terra sem nome e casas de barro. O local era maior do que eu imaginava também. Perguntei então para um garoto que passava na hora e perguntei se ele sabia onde era a casa de Khadim Hussein. Ele disse que sabia e se propôs a me levar até lá. Não precisei pedalar mais que 50 metros para chegar até a casa de Khadim. O problema foi que ele ainda não havia chegado em sua casa.

Mesmo na ausência de Khadim, a família foi muito simpática comigo me convidando para dentro da casa e me deixando a vontade, ainda que houvesse quase que apenas mulheres na casa e elas não pudessem falar comigo mesmo que soubessem falar inglês, devido à conduta imposta pela religião islãmica (mulher casada não fala, não olha e, muito menos, toca um outro homem). Tomei então um banho, coloquei meu largo traje muçulmano e esperei Khadim.

Durante minha espera chegou um amigo dele, que se indentificou como irmão de Khadim. Conversamos. Bem, tentamos nos comunicar um pouco com mímica e poucas palavras até que chegaram com meu jantar: 2 chapatis, uma porção de vegetais refogados no fogo a lenha do quintal e um copo d’água. Tinha fome para mais, mas fiquei quieto, diante da situação daquele aldeia, capaz de fazer qualquer imagem das secas do nordeste parecer um passeio no parque.

Logo que terminei de comer o amigo de Khadim, me levou para fora da casa para “me mostrar o vilarejo”. Obviamente não havia mulheres nas ruas, já era noite, no entanto parecia que todos os homens estava fora de suas casas. O agrupamento desses homens era algo curioso, sempre em volta de tipo de um nargileh (instrumento usado para se fumar tabaco) típico do Paquistão, com apenas um braço metático de cerca de um metro de diâmetro, porém numa base giratória, que facilitava a socialização da fumaça.

Apesar de dentro desse gigante cachimbo só se queimar tabaco, logo descobri que por alí as pessoas queimavam algo mais. Quase todos os homens do vilarejo fumavam hashish de forma delibarada. Seria fácil julgar esses homens que fumavam essa substância, mas depois de algum tempo com eles, percebi que eles nunca fumavam sozinhos e fora hashish eles não consumiam nenhum outro tipo de droga, nem mesmo álcool, que é mais recriminado que o próprio hashish por aqui. Caso algum deles fosse pego bebendo a metade da quantidade que um adolescente de 15 anos bebe no Brasil, aqui eles já teriam grande problemas com as pessoas, sendo tratados pelo o que a nossa sociedade chama de “drogados” e correndo o risco de ir para a cadeia.

Quando estava nas ruas desta aldeia, Khadim chegou. Com ele alí eu poderia falar com as pessoas, já que ele conseguia entender e falar razoavelmente inglês. Khadim fez questão de me levar para conhecer todas as rodas de amigos de sua aldeia, todas formadas em função do tabaco ou do hashish. Somente quando já era tarde e eu já havia conhecido quase todos os homens da comunidade, fui embora para a casa de Khadim para dormir.

Quarta-feira (14 de novembro de 2007)
Bulagary – Sahiwal (84 km)

Acordei cedo, pelo menos para o Paquistão, onde as pessoas não conseguem acordar antes das 8 da manhã e as escolas começam as aulas às 9 da manhã. Khadim já estava acordado e sua mulher já preparava o café da manhã de todos no fogão a lenha instalado no chão. Comi o mesmo que no jantar de ontem, com a diferença que hoje havia um copo de lassi, que parecia estar estragado, mas o bebi mesmo assim. Logo que acabei de comer, Khadim me convidou para dar uma volta em sua vila e conhecer a vida local.

Eles começou pela sua família, que incluindo tios, primos e todos os parentes possíveis, totalizava quase que o vilarejo inteiro. Todas as casas eram feitas de barro com tijolos, ou de cocô de vaca e barro apenas. As ruas tinham uma poeira avermelhada mais fina que talco, que subia a cada vez que um pé tocava o solo. Os búfalos saiam sozinhos às ruas, onde as cabras já estavam fazia algum tempo, onde os cachorros latiam e as galinhas fugiam das pessoas.

Depois de mostra-me as ruas, Khadim foi me mostrar novamente as pessoas, que em plana manhã já se reuniam para fumar o que fosse. Cada círculo de pessoas me oferecia alguma coisa, gerelmante um copo de chai feito com leite de búfala tirado na hora. Após os amigos, seguimos para outros pontos de interesse como a escola local, a oficina do artesão e o cemitério da vila. O mais curioso foi o cemitério, pois não havia sinal algum para identificar os túmulos, sendo todos apenas um monte de terra batida num terreno repleto de montes de terra batida.

Se eu deixasse, Khadim ficaria me mostrando a vila até a noite, mas eu tinha que ir embora, caso contrário acabaria passando a noite por alí novamente. Voltei então para a casa de onde havia deixado minhas coisas e arrumei tudo para seguir em frente. Despedi-me de todos e segui em frente, com a intenção de chegar em Harappa, mas sem saber se eu chegaria ou não.

Na estrada eu apenas pedalei em direção ao oeste, contra um leve vento e entre algumas pequenas cidades e muitos postos de gasolina, quase sempre amplos e bastante organizados. Ao final da tarde eu estava em Sahiwal, a maior cidade da região, logo antes da vila de Harappa, que era o meu objetivo. Não sabia o que eu encontraria em Harappa e nem a distância que eu teria que percorrer para chegar até lá. Com o sol em já seus últimos minutos eu resolvi ficar por Sahiwal e não arriscar uma pedalada extra.

Parei então a bicicleta no acostamento da estrada, já na parte urbana da cidade, com a intenção de pensar o que eu faria. Infelizmente percebi que pensar não seria possível alí. Em poucos minutos já havia uma roda de mais de 10 pessoas ao meu redor, todas rindo ou falando algo que eu não tinha nem idéia. Isso não era comum no Paquistão, mas estava acontecendo agora. Era um momento indiano fora da Índia (mas não tão longe de lá).

Iria ficar na cidade, mas era melhor encontrar um lugar para ficar, pois já havia percebido que não teria paz com aquelas pessoas. Parei então num hotel e logo tive a resposta padrão da Índia: estamos cheios, mesmo que as chaves dos quartos estivem quase todas alí. Nunca consegui entender o porque deles fazerem isso e gostaria de descobrir. De qualquer forma, tive que procurar outra hospedagem pela beira da estrada.

Não longe de minha primeira tentativa eu encontrei outra hospedagem, um pouco mais afastada da estrada, o que amenizava o ruído dos motores. Consegui um quarto, jantei, descobri que não havia nada para ser visto na cidade e voltei para o quarto para dormir e começar outro dia amanhã.

Quinta-feira (15 de novembro de 2007)
Sahiwal – Harappa – Lahorinwala (51 km)


Sabia que Harappa não estava longe de mim, apenas não sabia o quanto. Pedalei por cerca de 20 quilômetros e resolvi perguntar para alguém. Coincidentemente eu já estava praticamente na entrada da estrada que me levaria até a vila de Harappa e depois para o museu e sítio arqueológico de Harappa. Foram mais 8 quilômetros por entre ruas estreitas e pequenos vilarejos até chegar ao sítio arqueológico de Harappa.

Parei a bicicleta na guarita de entrada, paguei 200 Rúpias e entrei no museu, onde a fotografia era estritamente proibida. O museu não era muito significante, mas bastante interessante para mim que já havia estudado um pouco da civilização do Vale do Rio Indo, a qual é a base da população do que hoje se conhece como sub-continente.

Em poucas palavras, os registro dessa civilização datam de mais de 5000 anos atrás e mostram umas das mais avançadas civilizações da ápoca. Dessa civillização, da qual as informações ainda são bastante escassas, sabe-se que a cidade de Harappa juntamente com Moenjo Daro formavam a capital dessa civilização. Em ambas escavações formam encontradas uma arquitetura avançada, com sistema de água e esgoto, que mostrava que eles se importavam com a higiêne. Também foram encontrados diversos trabalhos em pedra e selos mostrando uma espécie de culto à natureza, animais (especialmente o búfalo) e à mulher.

Depois de meu passeio pelo museu eu segui para o sítio arqueológico que ocupava uma grande área do local. As escavações não eram as melhores que eu já havia visto, já que o máximo que conseguiram reconstituir foi a base das construções. Obviamente isso era interessante, mas estava longe de ser tão cativante como Machu Picchu ou Angkor Wat, mas havia toda a história de uma civilização atrás de cada uma daqueles blocos. Blocos que até pouco tempo estavam sendo roubados para a construção de casas e até mesmo da ferrovia que pessa perto dalí.

Após a visita ao sítio arqueológico eu voltei para a minha bicicleta e fui embora. Diversas pessoas tentaram me ajudar em relação ao caminho, mas no final das contas apenas me confundiram e eu acabei tomando o mesmo caminho que eu havia usado para chegar ao local. Quando eu voltei à estrada perguntei sobre a localização de Lahorinwala e descobri que estava mais próxima do que eu imaginava.

Poucos quilômetros depois eu já estava no vilarejo, onde perguntei sobre a casa de Mohammed Ashraf e todos sabiam me indicar. Quando cheguei na casa não sabia quem procurar, muito menos o que dizer, já que eu não falo a lingüa local, o urdu. Logo M. Ashraf apareceu e me convidou para entrar, já sentando na cama em que eu dormiria nesta noite. Por algum tempo eu fiquei sozinho, mas aos poucos chegaram mais pessoas até um ponto em que o quarto estava repleto de pessoas, quase todas olhando para a minha cara e tentando se comunicar comigo de alguma forma.

Até certo ponto isso foi bastante interessante, mas quando o relógio já marcava 11 horas da noite e todos ainda estavam alí e eu já com sono, percebi que teria que fazer alguma coisa. Fui direto e disse que queria dormir, não tinha o porque de usar um caminho mais longo para dizer isso e quase todos foram embora na mesma hora. Quase todos. Alguns sujeitos ficaram por alí ainda e só me deixaram dormir quando já era quase meia-noite. (tadinho.. porque será que no pak eles tem mania disso? dormem muito tarde, acordam também... nós somos a única diversão deles hehehehe)

Sexta-feira (16 de novembro de 2007)
Lohorinwala – Multan (132 km)

Acordei cedo, hoje não poderia perder muito tempo caso quisesse pedalar uma longa distância. Arrumei tudo rapidamente e logo já estava pronto para a estrada, mas esperei o café da manhã e depois esperei todos da casa virem se despedir de mim, eu tive que esperar os que chegariam na casa para se despedir de mim. Quando já era 9:30 da manhã e eu via que já teria problemas para chegar em Multan durante o dia e decidi ir embora e não esperar mais ninguém.

A manhã estava fria e com uma névoa que não me deixava ver mais do que 10 metrso à minha frente. Precisava contar com minha audição agora. Por algum tempo foram meus ouvidos que me guiaram, mas conforme o sol se levantava, a neblina também ia embora e a temperatura se elevava.

Durante toda a manhã eu não me sentia disposto à pedalar e já previa que eu não conseguiria chegar em Multan hoje, tendo que parar no meio do caminho para continuar a viagem amanhã. Assim, parei algumas vezes para comer e beber e por fim cheguei em uma cidade chamada Khanewal, a qual ficava a apenas 40 quilômetros de Multan. Sabia que qualquer hotel da cidade seria uma porcaria e a melhor opção seria acampar.

Até entrei num hotel para ver as condições e percebi que não eram nada boas. Assim, decidi acampar num gramado de algum posto de gasolina pela estrada. Quando eu encontrei um posto de gasolina razoável, lembrei que eu não tinha comida, não havia nenhuma restaurante por perto e o posto de gasolina não contava nem com água para eu tomar banho de caneca.

O sol estava se pondo e eu percebi que mesmo que eu quisesse eu não conseguiria dormir na barulhenta lateral da estrada. Assim, tomei a decisão de pedalar nem que fosse um pouco durante a noite, mas de chegar em Multan e descansar por um dia na cidade. Subi na bicicleta, coloquei a uma lanterna em minha cabeça e outra na traseira da bicicleta, agora estava pronto para encarar a noite.

Tive luz por mais cerca de 10 quilômetros e depois já era plena noite. Continuei em frente dentro da noite, do frio e da neblina que fazia. Pedalar à noite não é das atividades mais agradáveis de se fazer, ainda mais numa estrada movimentada e num país como o Paquistão. O problema que surgia era a fome, pois eu não tinha comida e a última refeição que havia feito havia sido no café da manhã.

Agora já estava cansado, com fome, com frio e no escuro, mas de uma forma incrível, completamente calmo e tranqüilo, tão tranqüilo que até parei no acostamento 10 quilômetros antes de Multan para comer algumas bolachas que eu lembrei que tinha. Comi traqüilamente as bolachas e depois abri uma folha de papel para descobrir onde eu poderia ir em Multan e onde encontrar um hotel.

No que eu procurava, um sujeito se aproximou de mim para perguntar se estava tudo bem e se eu precisava de ajuda. Disse que estava tudo bem e que eu não precisava de nada a não ser a indicação de um hotel razoável na cidade. O sujeito disse que não sabia me indicar, mas disse que morava perto dalí e que eu poderia dormir na casa dele se eu quisesse. Ele estava de carro com sua família. Achei que não teria problemas e aceitei o convite.

Segui o carro por uma curta distância e cheguei até o vilarejo onde ele morava. No entanto, ele não era um simples morador do local, mas ele era o dono de toda a vila. Sua casa, uma espécie de mansão, ficava no centro dessa aldeia e ele tinha alguns funcionários que trabalhavam para ele, o que é raro por aqui. Logo ao chegar alí ele me deu um quarto, me mostrou o banheiro e disse que em poucos minutos o jantar estaria pronto.

Logo o jantar estava na mesa e eu tive a oportunidade de comer algo que não era bem paquistanês, uma pizza e queijo. Comi muito, como fazia tempo que eu não comia e depois fui para o quarto para uma merecida noite de sono.

Sábado (17 de novembro de 2007)
Multan


Como era sábado toda a família estava na casa, o pai, a mãe e os 3 filhos. Tomamos café da manhã juntos e depois eles foram me mostrar a vila deles, do galinheiro no fundo da casa até a fábrica de blocos e os grande terrenos para o plantio de cana-de-açúcar. Quando eu já havia visto tudo disse que iria até a cidade (Multan) para fazer algumas coisas e ver alguns dos templos da cidade.

Apesar de toda a hospitalidade da família eu não sei dizer até que ponto eles estava felizes em me receber alí. Eu sentia que eles estavam fazendo uma obrigação de me receber na casa deles, especialmente pela mãe da família que era falsa e dissimulava suas atitudes a todo o momento tentando parecer simpática. O pai da da família desde que eu havia dito que não era muçulmano já não fazia questão alguma de conversar comigo. Assim, passar o dia em Multan seria uma ótima saída para hoje.

A idéia do passeio em Multan não foi muito longe. Com alguns argumentos sem pé nem cabeça a família resolveu me levar para conhecer Multan. O passeio programado pela família não me mostrou muito da cidade, com exceção do parque, de um mausoléu e dos lugares que eles queriam ir. Após o passeio voltamos para a casa da família e teve início o momento mais emocionante do dia.

Um dos filhos da família me perguntou o que eu levava para a minha proteção. Mostrei para ele minha perigosíssima faca de menos de 10 centímetros e disse que acreditava em Deus (apesar de não ser fanático por nenhuma religião). Pensei que como bons muçulmanos, que parecem fazer tudo para Allah, eles iriam concordar. Estava enganado. Eles disseram que eu tinha que me proteger melhor, pois estava passando por longares perigosos, e começaram a mostrar a coleção de armas que eles tinham.

Começaram com uma simples espingarda de chumbo, com a qual eles brincavam dentro da casa para o meu espanto. Depois passaram para algumas carabinas e chegaram a uma escopeta e um cinto de cartuchos digno de Silvester Stallone. Passei a notar o quanto os filhos da família eram obcecados em armas. Mesmo após o show das armas eles chegaram com fotos dos melhores momentos da família. Os garotos ainda bebês, a primeira bicicleta, a primeira arma e a primeira experiência com uma metralhadora automática. (eita...)

Depois de tudo isso, eu apenas resolvi ficar sozinho um pouco e arrumar todas minhas coisas para deixar a cidade na manhã de amanhã.

Domingo (18 de novembro de 2007)
Multan – Bahawalpur (103 km)


Pela manhã eu já tinha tudo pronto para deixar a cidade. Havia arrumado minhas malas, me alongado e até passado o protetor solar, mas descobri que seria uma grande falta de educação ir embora sem tomar um café da manhã com a família. Não me sentia muito bem em relação ao estômago, mas mesmo assim sabia que teria que comer para poder conseguir pedalar uma distância de cerca de 100 quilômetros.

Após o refeição eu me despedi de todos e segui em frente, sabendo que teria muito que pedalar hoje. No entanto, antes de começar a pedalar para valer eu tive que procurar um banheiro na estrada. As estradas por aqui nem sempre possibilitam a improvisação de um banheiro devido ao grande número de pessoas que existe por toda a parte, assim tive que parar num posto de gasolina e pedir para usar o banheiro.

Depois de me aliviar emergencialmente eu sabia que estava pronto para pedalar. Com o ar parado e diversos caminhões me ajudando com o movimento de ar que geravam eu tive um empurrão extra hoje, conseguindo desenvolver uma velocidade média acima do comum. Quase não parei pelo caminho e mesmo saindo mais tarde do que eu esperava de Multan, eu consegui chegar cedo em Bahawalpur, onde logo encontrei um lugar barato para passar a noite e depois saí para comer uma boa refeição, para curar meu estômago e encerrar esta semana de boas pedaladas e algumas surpresas.


=) amooooooo
mas parece que essa parte foi meio dark! Dá pra sentir a desaminada dele.

1 comment:

Everyn Palhares said...

hahahaha...conheco beeeeeeeeeeeeeem essa estrada q ele passou...Hoje mesmo passei por ela...Pq to em Multan de novo...

E vc nem vai acreditar, hoje qdo passamos por Sahiwal, o Habi disse que domingo qdo estivermos voltando pra Lahore, vamos parar no tal sitio arqueologico de Harappa...Que diz ele q eh mega interessante...Soh lamento q naum trouxe minha cam dessa vez...Mas vou tentar fazer pics com o celular...=)))

Nossa q coincidencia...No mesmo dia q meu marido me deu uma licao de HISTORIA sobre o Pk e falou justamente sobre Harappa, eu leio o relato desse cara hiihihihi...Mtoooo legal...

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